1964

As forças armadas tomaram o poder em 31 de março.

Em 20 de abril, dezenove dias após o golpe militar de 31 de março, fui convocado para presidir uma das comissões de inquéritos com a missão investigar as atividades dos comunistas em Pernambuco. Entre os dez promotores designados para essa missão, eu era o mais novo de todos no Ministério Público.

Fiquei apreensivo com essa incumbência por ter vários amigos comunistas, entre eles Jarbas de Holanda que, à época, era vereador da Câmara Municipal do Recife.

Felizmente, nenhum deles foi processado pela minha Comissão, que atuou nas comarcas do Interior do Estado.

De 20 de abril a 6 de outubro deste ano, instaurei inquérito em várias comarcas do Interior contra afiliados ao Partido Comunista: Garanhuns, Lagoa dos Gatos, Jurema, Surubim, Barra de Guabiraba e Vertentes. Em seguida, instaurei alguns inquéritos no Recife, mas tive a sorte de não receber denúncia contra alguns dos meus amigos comunistas. Àquela altura, Jarbas de Holanda Pereira, que era vereador da Câmara Municipal já se encontrava na prisão. Nenhum dos meus inquéritos foi rejeitado ou anulado. Naquela época, o Ministério Público não tinha autonomia, porque era um órgão do Estado. Em Pernambuco, era subordinado a então Secretaria de Interior e Justiça.

Na primeira fase, no Interior do Estado, fui assessorado pelo Capitão Luiz da Silva Leal e, na segunda, no Recife, pelo Capitão Leônidas Tiriba, com os quais mantive uma ótima convivência durante a nossa árdua missão.

No término de minha espinhosa missão, recebi, do então Secretário de Segurança Pública de Pernambuco, um elogio pela “maneira correta e eficiente com que se conduziu no desempenho dos encargos quando posto à disposição da Secretaria de Segurança Pública”.

 

Em 18 de fevereiro de 1964, nascimento de meu filho Ulisses, que viria a morrer quatro anos e nove meses depois, conforme previra a cartomante Dona Iracema.

 

Deste ano até 1967, passei a frequentar as reuniões mediúnicas na casa de Pessoa de Moraes, à Rua Gervásio, cujo médium era a sua esposa Mary.

Ele relatou, no livro já referido o que acontecia nessas reuniões das quais participei:

Por esse tempo vinha realizando, ainda, experiências em grupo: apareceram, então, na presença inclusive de Valter da Rosa Borges, focos luminosos brotando, surpreendentemente, na sala. Uma certa substância esbranquiçada tomando forma, constituída de uma espécie de papel celofane e se acendendo, de repente, junto à mesa. Relâmpago surgindo na obscuridade, do chão. Um foco de luz em forma oval, fazendo circunvoluções pelo ar. O mais curioso era que o foco que se movimentava pela sala não era a resultante de um feixe, o que seria normal se fosse o resultado da projeção de uma luz comum. Víamos somente a forma luminosa inteiramente autônoma em evolução.

Semanas antes havíamos visto enormes batidas na mesa e, ao mesmo tempo em todas as portas e janelas, como se um conjunto de mãos vigorosas se distribuíssem por todos os recantos da casa. No teto da sala ouvíamos, igualmente, uma multidão de batidas, como se outro grupo de pessoas pulasse sobre ele, com força.

Em outras ocasiões, ondas de ar perfumado, passavam, aqui e ali, e se tornavam muito intensas à proporção que se acercavam de cada um de nós. Não raro, gotículas de perfume caíam deixando um cheiro típico, por exemplo, de jasmim que persistia por muito tempo. Uma vez foi anunciado que perto de cada pessoa havia sido colocado um jasmim. Quando acendemos a luz constatamos exatamente isto. Antes, na sala, não havia nenhuma flor, a não ser artificial.

Posteriormente, na fase de luz, foi feita alusão a um certo círculo de ouro e vimos luzes em diferentes cores: azuis, verdes, amarelas, alaranjadas, encarnadas, etc. Fotografamos muitas dessas experiências de luz. Valter da Rosa Borges trazia sempre uma máquina e se encarregava dessa parte. A máquina registrava tudo o que víamos, sinal evidente de que não se tratava de simples impressões subjetivas, como poderia se supor.

Como eu viesse criticando as experiências convencionais no escuro, ligadas a um médium, me foi dito que podíamos, nesse dia, deixar a sala às claras inteiramente acesa, as janelas abertas sem a menor concentração dos presentes, todos conversando, e a música comum — música popular brasileira, por exemplo. Foi dito também que olhássemos, antes, cuidadosamente a sala e procurássemos tirar fotografias de cinco em cinco minutos. Não víamos nada, porém fomos avisados de que os possíveis fenômenos de materialização, numa fase ainda não visível, eram capazes de impressionar a máquina. Revelado o filme, apareceram figuras humanas envoltas em vestes brancas. Noutra ocasião a experiência foi feita a pedido de um grupo de cientistas e professores universitários, tendo possíveis entidades insistido, através de minha esposa, para se tomar várias precauções, se verificando, com rigor, os aposentos. O grupo preferiu seguir as normas tradicionais, após fazer as verificações, e a sala ficou inteiramente às escuras. Possíveis entidades, através de minha esposa em transe, indicavam os lugares para onde seria dirigida a máquina, como sempre através de Valter da Rosa Borges, a fim de bater as fotografias.

 

As fotografias ficaram em poder de Pessoa de Moraes.

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