1962

Em dezembro, as reuniões mediúnicas passaram a se realizar no Centro Espírita Caminhando para Jesus, no Alto Pereirinha, s/n, Água Fria, com Aníbal Ribeiro, Presidente da instituição, Walter Barros, José Ivan Sobral, Jorge Albuquerque, Dinorah Mengolo e Hélio Pacheco Gusmão e Silva, Eros Jorge de Souza e Zilda Webster Jorge de Souza.

 

Pessoa de Moraes descreveu o ambiente em que essas sessões realizadas em um capítulo de O Livro das Trevas, sob o título Meu Encontro com o Desconhecido. O livro, publicado em 1968, pela Gráfica Record Editora, era constituído de artigos de vários autores sobre assuntos ligados ao fantástico, onde pontificam nomes como Gilberto Freyre, Orígenes Lessa, José Condé, entre outros do Brasil e do Exterior.

O lugar dessas reuniões foi outro grande motivo de atração para mim. Um lugar também muito estranho e cheio de enormes sugestões de mistério: uma espécie de castelo situado no alto, de um dos lados da avenida Beberibe, no subúrbio de Água Fria, no Recife. Subíamos, para chegar ao local, uma longa ladeira de pedra de declive não muito íngreme, e depois avistávamos, no alto, a mansão enorme. As grossas paredes da construção e o branco quase cinza da pintura antiga, já esmaecida e com manchas escuras, deixava transparecer o ar meio grave das coisas marcadas pelo tempo. Subíamos muitos degraus para chegar em cima. A casa era ladeada, em quase todos os lados, por largos terraços. Na verdade, dava a ideia de um solar antigo com muitos quartos e várias salas onde funcionava também, durante o dia, uma escola para os meninos pobres do morro.

À noite, ou à tardinha, ao escurecer, a visão do Recife, no alto, era um espetáculo à parte: milhares de pontos luminosos se descortinavam à vista. Na parte lateral e posterior do castelo, o terreno que circundava a casa, ornamentado por uma grama rasteira e mal cuidada terminava, de repente, num precipício: uma grande barreira extremamente íngreme, quase na vertical, de onde se via grande parte da cidade e o mar, ao longe.

Dos terraços da casa, à noite, o sussurrar dos ventos nas vidraças das janelas, a escuridão acompanhada da visão tênue e distante de mil pontos de luz, ofereciam, para mim, como escritor, um mundo de sugestões. Inclusive literárias.

De modo que aquela minha experiência de encontro com o desconhecido, num local estranho como aquele era, um motivo especial de atração. O resto veio depois, e surpreendentemente.

Como não pude logo ser admitido às experiências, ficava às quintas-feiras, à noite, sozinho, nos terraços do castelo, enquanto uma reunião chamada mediúnica se realizava, em cima, numa pequena sala por onde se subia através de uma escada em caracol.

Depois, fui admitido inclusive às reuniões de materialização. Estas, sobretudo, me interessavam demais. Principalmente porque as experiências ainda estavam em fase elementar. Queria acompanhar o fenômeno em sua possível evolução desde os estágios iniciais. Comecei sentindo certas sensações de queda de temperatura; e a ouvir pequenas batidas.

Para o meu desencanto, tivemos de abandonar o castelo que era alugado. A erosão desgastava, cada vez mais, as barreiras e Aníbal não teve condições de comprar o prédio que exigia uma reparação de vulto.

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