2000

Saudação à nova Diretoria e aos novos acadêmicos da Academia Pernambucana de Ciências, por ocasião de sua posse, no dia 16 de fevereiro de 2000, no auditório da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco – FIEP –.

 

No dia 6 de dezembro, a Academia prestou homenagem aos seus sócios fundadores no Clube Militar do Recife, na Avenida Agamenon Magalhães, bairro da Boa Vista.

 

Palestra “Fenomenologia da Consciência”, na 6ª reunião de 05 de agosto, da Academia Pernambucana de Ciências, realizado no auditório do CTCH  – Bloco B – 1º Andar, da Universidade Católica de Pernambuco.

Participei do XVIII SIMPÓSIO PERNAMBUCANO DE PARAPSICOLOGIA, realizado na Fundação Joaquim Nabuco – FUNDAJ Museu do Homem do Nordeste, em 18 de novembro de 2000, com uma palestra intitulada “Um Estudo sobre Aparições no Recife”.

O parapsicólogo argentino Naum Kreiman também participou, como conferencista, do evento e visitou a sede do IPPP onde se reuniu com os parapsicólogos pernambucanos para a criação da Escola Ibero-americana de Parapsicologia, tendo por base a Escola Pernambucana de Parapsicologia.

ESCOLA IBERO-AMERICANA DE PARAPSICOLOGIA

 

Em reunião realizada aos dezenove dias do mês de novembro do ano dois mil, na sede do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas – IPPP, à Av. 17 de Agosto, 17778, na cidade de Recife, estado de Pernambuco, Brasil, onde estavam presentes os parapsicólogos Valter da Rosa Borges, Ronaldo Dantas Lins Filgueira, Guaracy Lyra da Fonseca, Jalmir Freire Brelaz, José Renato Barros, Isa Wanessa Rocha Lima, todos brasileiros, e Naum Kreiman, argentino, decidiu-se que estava fundada a Escola Ibero-americana de Parapsicologia, em relação a qual ficou acordado as seguintes deliberações:

1 – O objeto de estudo e pesquisa da Parapsicologia é o fenômeno parapsicológico (não utilizar o termo fenômeno paranormal).

2 – Define-se como fenômeno parapsicológico a todo o fenômeno que, sendo produzido ou vivenciado pela mente humana, apresenta as seguintes características:

Uma modalidade de conhecimento que uma pessoa demonstra de fatos físicos e/ou psíquicos, relativos ao passado, presente ou futuro, sem a utilização (aparente) dos sentidos e da razão, assim como de habilidades que não resultem de prévio aprendizado.

Uma ação física que uma pessoa exerce sobre seres vivos e a matéria em geral, sem a utilização de qualquer extensão ou instrumento de natureza material.

(Não utilizar os termos fenômeno incomum da mente humana e epicentro)

3 –  Adota-se como classificação oficial dos fenômenos parapsicológicos as duas categorias aprovadas no I Colóquio Internacional de Parapsicologia, ocorrido em Utrecht, na Holanda, em 1953, e proposta por Thouless e Wiesner, que consiste em psi-gama e psi-kapa, correspondendo aos fenômenos parapsicológicos que apresentam, respectivamente, as características dos itens a) e b) do artigo anterior (de número 2).

4 – Adota-se a nova proposta epistemológica, apresentada pelo Prof. Valter da Rosa Borges, por ocasião do I Simpósio Pernambucano de Parapsicologia, em 1983, em que a precognição não é mais considerada fonte, mas sim, característica do conhecimento paranormal.

Desta forma, a categoria psi-kapa apresenta como fenômeno a telecinesia e a categoria psi-gama a telepatia e a clarividência. Como o conhecimento parapsicológico é atemporal, o fenômeno parapsicológico apresenta a característica da independência do tempo, (percepção de eventos, psíquicos ou físicos, desviados das coordenadas temporais almejadas), podendo ocorrer as seguintes possibilidades:

  1. a) Precognição: Quando alcançamos eventos posteriores ao objeto alvo. Consiste em perceber eventos que ainda irão ocorrer.
  2. b) Retrocognição: Quando alcançamos eventos anteriores ao objeto alvo. Consiste em perceber eventos que já ocorreram.
  3. c) Simulcognição: Quando o experimento alcança temporalmente o objeto alvo. Neste caso, ocorre a tomada de conhecimento por meio parapsicológico de um evento presente.

5 – Adoção dos métodos quantitativo e qualitativo para a realização das investigações parapsicológicas, de conformidade com o tipo de pesquisa realizada.

Lembramos que a abordagem fenomenológica trouxe para o campo científico fenômenos não mensuráveis, passíveis apenas de uma abordagem qualitativa.

6 – Valorização dos trabalhos teóricos, com elaboração de modelos e teorias que possam ser testadas experimentalmente.

7 – Reafirmação da autonomia da Parapsicologia, nos posicionando contra qualquer tentativa de reducionismo da Parapsicologia a qualquer outra ciência. Deve ser evitada qualquer psicologização, biologização ou fisicalização da Parapsicologia., podendo, entretanto, se enriquecer com os subsídios de outras ciências.

8 – Adota-se que a área de atuação do parapsicólogo, enquanto profissional, deve ater-se a três campos bem definidos:

Magistério – Como professor de nível superior, o parapsicólogo pode lecionar Parapsicologia como disciplina eletiva de outros cursos de graduação, em cursos de extensão universitário, em cursos livres de pós-graduação e futuramente de graduação em parapsicologia, quando houver. Bem como poderá ministrar cursos básicos de Parapsicologia, de natureza informacional.

Pesquisa – Como pesquisador, o parapsicólogo pode trabalhar individualmente ou ligado a uma instituição de pesquisa parapsicológica.

Pode dedicar-se à pesquisa teórica, elaborando hipóteses e experimentos ou eleger o trabalho de campo ou de laboratório, sendo recomendável que, na investigação dos casos espontâneos, esteja familiarizado com as artes mágicas ou se faça assessorar por um prestidigitador de sua confiança.

Pode, ainda, dedicar-se à aplicação de testes parapsicológicos e treinamento de Agentes Psi, como também emitir laudos e pareceres técnicos e também realizar perícias.

Como orientador, o parapsicólogo pode montar seu consultório para atendimento de pessoas que, direta ou indiretamente, estejam passando por experiências parapsicológicas, sendo-lhe, porém, vedado praticar qualquer tipo de psicoterapia.

9 – Adota-se oficialmente o termo Agente Psi para indicar o se humano de produz ou vivencia um evento parapsicológico. Deve-se evitar termos como médium, paranormal, sensitivo, metagnomo e outros.

10 – A Escola Ibero-americana se propõe a rever criticamente todo o processo histórico da investigação da fenomenologia parapsicológica.

11 – Adoção do Baralho Zener modificado, conforme proposta do Prof. Ronaldo Dantas Lins, no ano de 1989, no VII Simpósio Pernambucano de Parapsicologia, e que consiste no seguinte: As imagens perceptuais da mente são transformadas do objeto percebido. Para que este processo ocorra a mente utiliza o efeituador transformativo que apresenta um componente geral e um específico. Esse é comum a todas as mentes, elaborando sintática (forma) e semanticamente (conteúdo) o material percebido, resultando respectivamente nos arquétipos e nas transformações topológicas.

Verificamos que determinada forma, no seu trajeto do objeto de percepção até à mente, bem como, sua elaboração intrínseca por esta, parece sofrer um desvio estrutural que preserva as propriedades topológicas como conexão e compacidade e altera outras como a distância.

Supondo que os fenômenos de Psi-gama ocorrem como homeomorfismo entre espaços topológicos, figuras topologicamente idênticas poderiam ser percebidas como a mesma figura, resultando em erro na avaliação estatística.

Especificamente temos que as cinco figuras do baralho Zener, numa abordagem topológica, são apenas três: o círculo é idêntico ao quadrado e a cruz é idêntica à estrela. Assim, experimentos considerados como de baixo índice de acertos, poderão ter, na realidade, um alto índice de êxitos.

Para evitar este erro, propomos um baralho constituído por figuras topologicamente distintas, como por exemplo, onda, cruz, coroa circular (circulo), interrogação e o símbolo do infinito ou o número oito.

12 – Criação de um Periódico (Revista ou Jornal) de Parapsicologia, que apresentasse as inovações teóricas e práticas da Escola, bem como suas realizações.

Obs. Infelizmente, com a morte de Naun Kreiman, a implantação da Escola ficou praticamente inviável.

 

 

No Jornal“ Ponto de Encontro”, Ano XV, nº 43, de fevereiro-março de 2000, publiquei um artigo intitulado O TERCEIRO MILÊNIO, que inseri no meu livro CAMINHOS DO TEMPO, 2017.

              

A chegada do terceiro milênio cristão vem gerando uma expectativa exagerada sobre o advento de uma nova era, ou temores pela consumação das profecias anunciadoras do fim do mundo.

Visto à luz de outros calendários, o ano 2000 será: 6236 segundo o primeiro calendário egípcio; 5760 segundo o calendário judaico; 5119 segundo o atual grande ciclo maia; 2753 segundo o antigo calendário romano; 2749 segundo o antigo calendário babilônico; 2544 segundo o calendário budista; 1716 segundo o calendário copta; 1420 segundo o calendário muçulmano; 1378 segundo o calendário persa.

O Terceiro Milênio, portanto, não passa de uma utopia centrada no calendário cristão e de conteúdo psicológico e cultural.

Conhecer o futuro para controlar o próprio destino sempre foi, é e continuará sendo uma das grandes aspirações do gênero humano. Daí, o prestígio das mais diversas mancias, empenhadas em desvendar o futuro das pessoas, de povos e nações e até mesmo da própria humanidade.

As profecias revelam expectativas para a vida em um mundo melhor ou em um outro radicalmente diferente do atual, seja porque se acredita num progresso interminável, seja porque o sistema atual do mundo é indesejável e deve ser modificado ou completamente destruído.

A profecia é uma espécie de fé centrada no futuro.

Podemos distinguir dois tipos de profecia: a) a do progressismo; b) a do catastrofismo.
As profecias do progressismo revelam o otimismo em relação ao futuro, sinalizando uma melhoria tecnológica de vida para o homem, embora não importe necessariamente em qualidade de vida. A ciência tem transformado o que antes parecia especulações visionárias em realizações ou probabilidades concretas. Assim, o cientista é também uma espécie de profeta que, ao invés de procurar entender os planos de Deus, cria os seus próprios projetos e tenta viabilizá-los. Diferentemente das pitonisas do passado, ele não aspira os gases oriundos da terra para augurar o futuro, mas se inspira nas ideias oriundas das profundezas do seu inconsciente, buscando construir para a humanidade, não apenas futuros possíveis, mas, principalmente, desejáveis.

Entre essas visões progressistas do futuro podemos destacar: a construção de cidades autossuficientes nos oceanos e no espaço; a instalação estratégica de defesas bélicas contra possíveis choques do nosso planeta com asteroides; as teleportações de coisas e pessoas, minimizando o obstáculo do espaço; as viagens no tempo; a conquista do espaço exterior com a colonização de planetas do sistema solar e também de outros sistemas dentro da nossa galáxia e até fora dela; a extinção de todas as doenças e o aumento indefinido da longevidade, com a manutenção da saúde e o retardamento ou mesmo a abolição do envelhecimento; a instalação de próteses ampliadoras das funções do corpo; a utilização de memória suplementar em chips implantados no cérebro; a ampliação funcional do vestuário à condição de nicho ecológico individual; a alimentação sintética, reduzindo a dependência do homem aos alimentos naturais, o que poderá resultar em alterações da fisiologia humana; a expansão, em nível inimaginável, da inteligência artificial, substituindo as atividades rotineiras do ser humano; a reconstrução genética, visando a melhoria biológica da espécie humana; a clonagem de órgãos, abolindo a necessidade de transplantes e próteses; a felicidade química e a abolição da dor física; a realidade virtual como sucedâneo, em certas situações, da realidade física; a utilização das aptidões paranormais e a criação de uma tecnologia psi.

As profecias do catastrofismo revelam uma concepção pessimista sobre o destino da humanidade. Elas resultam do desespero, da desilusão, decorrentes de conflitos sociais, da mudança de normas e valores, do mundo presente e que, projetados para o futuro, se apresentam como ponto final da tragédia contemporânea, podendo resultar ou não na esperança pelo início de uma nova era.

Desde tempos imemoriais, acredita-se que a destruição da humanidade será decorrente de ações pecaminosas, gerando a dissolução dos costumes, com o incremento da licenciosidade, da corrupção do poder, da escalada da desonestidade, do arrefecimento do sentimento religioso, da busca exacerbada dos bens materiais, o agravamento da pobreza, da fome, e do aumento insuportável da violência, desencadeando o aumento da criminalidade, dos conflitos sociais e das guerras. Este quadro de extrema instabilidade social deflagra o mecanismo psicológico de compensação com a esperança visionária da destruição do atual sistema e sua substituição por outro mais justo. Os deserdados de hoje seriam, assim, os herdeiros de amanhã, os pecadores seriam punidos e os justos recompensados e uma nova humanidade surgiria das cinzas da devastação da grande Babilônia universal.

As profecias para o 3º Milênio revelam a tendência do ser humano de encontrar no futuro uma promessa de consolo, de compensação e vitória para um presente insatisfatório, angustiante e incerto. O futuro é a esperança da realização do sonho de uma nova humanidade radicalmente diferente da atual.

A ansiada punição ou a ira de Deus é a vingança dos deserdados contra os seus agressores e a desforra dos pobres. Quem não pode revidar ofensas nutre esperanças de que algo ou alguém o faça, restaurando-lhe a dignidade perdida. O Messias é, assim, o vingador coletivo e o Juízo Final, a plena consumação da vingança e o triunfo dos oprimidos.

O futuro da humanidade é, de certo modo, um construto do psiquismo humano. Os futuros temíveis ou desejáveis podem se tornar prováveis, pois o homem, por sua capacidade de pensar as possibilidades do acontecer, é suscetível de ser vítima ou beneficiário do conhecimento científico e de suas aplicações tecnológicas.

 

SAUDAÇÃO ACADÊMICA (*)

A Academia Pernambucana de Ciência, nesta noite especial, comemora dois even­tos de fundamental importância para a sua história: a posse de sua nova Diretoria, reeleita pela confiança de seus Acadêmicos, com base nos trabalhos que realizou na ges­tão anterior, e a posse dos novos membros da sociedade, que, por certo, enriquecerá ainda mais o seu património científico e cul­tural.

A Academia Pernambucana de Ciênci­as, fundada em 1978, é a afirmação da capa­cidade intelectual do homem de Pernambu­co, capaz de superar barreiras, aceitar desa­fios e obter vitórias e conquistas, mesmo nas condições mais adversas. Assim, o que parecia uma ousadia utópica, um mero ca­pricho ocasional, se transformou em realidade para o gáudio daqueles que insisten­tes e persistentes acreditaram na viabilida­de de seu ideal.

A reeleição da nova diretoria da APC, tendo a frente, mais uma vez, a figura de seu dinâmico e arrojado Presidente, Dr. Waldecy Fernandes Pinto, é a afirmação e a continui­dade de um trabalho que vem projetando a instituição no cenário científico e cultural de Pernambuco. E a posse de novos Aca­démicos é a certeza da continuidade da atividade científica da Academia, no seu propósito de contribuir para alavancar o progresso científico e tecnológico de nos­so Estado.

Conhecer o futuro para controlar o pró­prio destino sempre foi, é e continuará sen­do uma das grandes aspirações do género humano. Elas resultam das expectativas de um mundo melhor ou de um outro radicalmente diferente do atual, seja por­que acreditamos num progresso inter­minável, seja porque o sistema atual do mundo é indesejável e deve ser modifi­cado ou completamente destruído. Por isso, o homem se fez profeta para inven­tar o seu próprio futuro.

A ciência tem transformado o que antes parecia especulações visionárias em realizações ou probabilidades con­cretas. Assim, o cientista é um profeta singular que, ao invés de procurar en­tender os planos de Deus, cria os seus próprios projetos e tenta viabilizámos. Di­ferentemente das pitonisas do passado, ele não aspira os gases oriundos da terra para augurar o futuro, mas se inspira nas ideias oriundas das profundezas do seu in­consciente, buscando construir para a hu­manidade, não apenas futuros possíveis, mas, principalmente, desejáveis. O seu otimismo em relação ao futuro se direciona no sentido de uma melhoria tecnológica da vida para o homem, embora nem sempre re­sulte em melhoria da qualidade de vida. En­tre essas visões progressistas do futuro a ciência se propõe à construção de cidades autossuficientes nos oceanos e no espaço; à instalação estratégica de defesas bélicas contra possíveis choques do nosso plane­ta com asteroides; às teleportações de coi­sas e pessoas, minimizando o obstáculo do espaço; às viagens no tempo; à conquista do espaço exterior com a colonização de pla­netas do sistema solar e também de outros sistemas dentro da nossa galáxia e até fora dela; à extinção de todas as doenças e ao aumento indefinido da longevidade, com a manutenção da saúde e o retardamento ou mesmo a abolição do envelhecimento; à ins­talação de próteses ampliadoras das fun­ções do corpo; à utilização de memória su­plementar em chips implantados no cérebro; à ampliação funcional do vestuário à condi­ção de nicho ecológico individual; à alimen­tação sintética, reduzindo a dependência do homem aos alimentos naturais, o que po­derá resultar em alterações da fisiologia hu­mana; à expansão, em nível inimaginável, da inteligência artificial, substituindo as atividades rotineiras do ser humano; à re­construção genética, visando a melhoria biológica da espécie humana; à clonagem de órgãos, abolindo a necessidade de trans­plantes e próteses; à felicidade química e à abolição da dor física; à realidade virtual como sucedâneo, em certas situações, da realidade física.

Porém, a ciência sem consciência, pode­rá reverter toda essa perspectiva otimista, ensejando a desilusão e o desespero, de­correntes dos conflitos sociais resultante da mudança de normas e valores, a dissolu­ção dos costumes, com o incremento da li­cenciosidade, da corrupção do poder, da escalada da desonestidade, do arrefecimento do sentimento religioso, da busca exa­cerbada dos bens materiais, do agrava­mento da pobreza, da fome, e do aumento insuportável da violência, desencadeando o aumento da criminalidade, dos conflitos sociais e das guerras.

O futuro da humanidade é, de certo modo, um constructo do psiquismo huma­no. Os futuros temíveis ou desejáveis po­dem se tornar prováveis, pois o homem, por sua capacidade de pensar as possibilida­des do acontecer, é suscetível de ser vítima ou beneficiário do conhecimento científico e de suas aplicações tecnológicas.

Uma Academia de Ciências não deve ser apenas uma congregação de pessoas, selecionadas pelo seu mérito, mas uma oportunidade de permuta contínua de experiên­cias e conhecimentos, na busca de um sa­ber cada vez mais enciclopédico, porém centrado na melhoria da qualidade de vida da humanidade. O cientista não deve ser um gênio solitário, embora faça da sua soli­dão o cadinho de suas descobertas e inventos. O laboratório jamais deve ser um cemitério, mas uma sementeira para o culti­vo de ideias oriundas das mais diversas áre­as do conhecimento humano. A ciência não pode ser um sistema fechado, uma espécie de feudo epistemológico, mas um espaço tão amplo e limitado como o universo exteri­or, a fim de evitar o engessamento e a estratificação do paradigma da realidade. A natureza intrínseca da ciência é a provisoriedade do seu próprio conheci­mento, em permanente compasso com a mutabilidade de todas as coisas. A fé na ciência é a consciência de sua própria insciência, pois como dizia Karl Popper, “o co­nhecimento é limitado, mas a ignorância é infinita”. Na verdade, quanto mais pensa­mos saber, mas nos conscientizamos das nossas limitações e do tamanho, cada vez maior, da nossa ignorância. Quanto mais adentramos a pesquisa da matéria, mais nos deparamos com a sua fundamental insubstancialidade. Quanto mais questionamos so­bre a vida, mais nos apercebemos da insufi­ciência do seu paradigma biológico. E quanto mais ampliamos os nossos conhecimentos sobre a bioquímica e a anatomia cerebral mais nos conscientizamos do mistério da nossa consciência.

Entende a Academia Pernambucana de Ciência que o conhecimento científico não deve ser partilhado apenas entre profis­sionais de uma mesma área acadêmica, mas também entre os demais cientistas, numa atividade intensa de interdisciplinaridade, proveitosa para o enriquecimento da pró­pria ciência como um todo. Além do mais, a Academia Pernambucana de Ciências pro­clama que o conhecimento científico não deve ficar adstrito e restrito à privacidade dos laboratórios e às discussões entre ci­entistas, em sessões privadas, mas que deve ser levado à comunidade para que dele tam­bém se beneficie, melhorando a própria qualidade de vida.

Assim como a ciência ainda não encon­trou o átomo no seu verdadeiro sentido etimológico, também ainda não se desco­briu o homem em si, pois ele não é apenas a sua circunstância, como dizia Ortega y Gasset, mas também a sua relação. Assim, a nossa individualidade é a nossa relação com, o que resulta na constatação de que a solidão não faz parte da essencialidade do ser. Na verdade, fundamentalmente nenhum homem vive exclusivamente para si, enfeudado em sua privacidade inexpugná­vel, mas também para os outros, apesar dos outros e até contra os outros. Por mais que não nos queiramos resignar, o mundo é necessariamente o nosso an­verso, a nossa contraparte. Aliás, hoje se postula que o uni­verso é uma rede de interconexões de todas as coisas, onde tudo interage com tudo, o que importa na inadmissibilidade de ter o ho­mem o privilégio de ser a única exceção.

Não se pode fugir ao truísmo denunciatório de uma sociedade em acelerada tran­sição que mais se assemelha, notadamente no ocidente, ao processo entrópico de uma civilização em rumo equivocado, embevecida, no entanto, pelo brilho hipnó­tico das lantejoulas tecnológicas. A bem da verdade, de tanto cotejar a filosofia consumista, na orgia aquisitiva de bens e de valores transitórios, o homem perdeu o seu próprio endereço existencial, acometi­do de colapso amnésico de sua identidade transcendental.

Se, de um lado, o progresso científico e as comodidades tecnológicas aceleram, cada vez mais, o processo de irreversível planetização, denominado por McLuhan de “aldeia global”, numa interação peri­gosamente homogeneizante das culturas mais díspares, por outro lado o espírito hu­mano vem sofrendo um persistente abas­tardamento de seu ideário humanístico pe­las facécias e falácias da mídia enlou­quecida, na promoção da vulgaridade, do deboche, do estímulo à criminalidade, onde o filão do escândalo constitui a ratio essendi do marronismo jornalístico.

Preservar-se incólume do contágio mediocrizante como cidadela inexpugnável do sanitarismo cultural é uma virtude ape­nas encontrável em veneráveis instituições – entre as quais se destaca a Academia Per­nambucana de Ciências – cuja missão con­siste na custódia dos valores excelsos do espírito humano.

Meus caros novos colegas, termino aqui essas aligeiradas e breves reflexões e, em nome da Academia Pernambucana de Ciên­cias, tenho a honra e a emoção de saudá-los e afirmar a minha certeza de vê-los como futuros baluartes da instituição e a conti­nuidade do ideal que ela representa.

(*) Saudação à nova Diretoria e aos novos acadêmicos da Academia Pernambucana de Ciências, por ocasião de sua posse, no dia 16 de fevereiro de 2000, no auditório da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco – FIEP.

Lançamento do livro “A Parapsicologia em Pernambuco”, no dia 29 de janeiro, na sede do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, na Av. Dezessete de Agosto, 1778, Casa Forte.

 

Prefacio o livro “Assombra­ções do Recife”, de Edvaldo Arlégo.

Viagem, a passeio, a Portugal e Grécia.

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