Retornei ao apartamento da av. João de Barros.
A partir deste ano, por determinação do Procurador Geral da Justiça, passei a ser seu assessor. Em várias ocasiões, substitui os Procuradores Gerais de Justiça, Evandro Onofre e Jarbas Cunha, na função de Procurador de Justiça, perante o Tribunal de Justiça de Pernambuco.
Participei da Comissão Julgadora do I Concurso Jurídico Nacional do Ministério Público, promovido pela Confederação Nacional do Ministério Público – CAEMP.
A Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro na sessão solene realizada no dia 18 de janeiro de 1980, no auditório da Faculdade de Filosofia do Recife – FAFIRE, concedeu do título de acadêmico emérito aos presidentes da Academia Pernambucana de Letras, da Academia Olindense de Letras, da Academia Pernambucana de Medicina, da Academia de Artes e Letras de Pernambuco e da Academia Pernambucana de Ciências, respectivamente os acadêmicos Mauro Mota, Barreto Guimarães, Fernando Figueira, Ferreira dos Santos e Valter da Rosa Borges. Em discurso intitulado “Academia & Comunidade”, falei em nome dos homenageados.
ACADEMIA & COMUNIDADE
A Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro, num gesto altamente significativo, homenageia, com a concessão do título de acadêmico emérito, os presidentes da Academia Pernambucana de Letras, da Academia Olindense de Letras, da Academia Pernambucana de Medicina, da Academia de Artes e Letras de Pernambuco e da Academia Pernambucana de Ciências, respectivamente os acadêmicos Mauro Mota, Barreto Guimarães, Fernando Figueira, Ferreira dos Santos e Valter da Rosa Borges, em solenidade que não se exaure na própria homenagem, mas que simboliza, acima de tudo, a integração da intelectualidade pernambucana.
No decantado século das comunicações, nenhuma Academia desta natureza pode dar-se ao luxo de permanecer em obstinado isolacionismo, como um sistema fechado ou espécie de mosteiro intelectual, produzindo, exclusivamente, para o seu consumo. A vida é um incessante processo de permutas com a finalidade precípua de garantir a homeostase orgânica, na metabolização permanente da matéria-prima e experiência adquirida. Via de regra, as Academias literárias e científicas reúnem a nata dos mais expressivos valores culturais de uma comunidade. Por isto, mister se faz que elas funcionem como um sistema aborto, um laboratório experimental do espírito, sempre em busca de novas fórmulas e opções, objetivando o enriquecimento existencial da humanidade. Ninguém é solitário por vocação. A misantropia é um estado patológico da natureza humana. E disto, já se apercebera Aristóteles, quando asseverou:
“Não se pode imaginar um homem feliz na solidão, porque o homem nasceu para viver em comunidade”.
O acadêmico não pode repetir o equívoco de Narciso na obsessiva contemplação de si mesmo, escravo do próprio isolamento e da fascinação exclusivista do seu grêmio. O elitismo intelectual é um insidioso narcótico, capaz de alienar as melhores inteligências do contato direto com a realidade de sua época. A solidão obstinada, à semelhança de um poderoso psicotrópico, é, frequentemente, responsável por todas as fantasias e excentricidades de que são vítimas até as inteligências mais privilegiadas.
O acadêmico, assim, tem a indeclinável obrigação de ser intensamente contemporâneo, um dinâmico operário do progresso, comprometido, de maneira indissolúvel, com o destino do seu povo. Administrador e não simples depositário de parcela significativa do patrimônio cultural da humanidade, a ele compete aplicar, diligentemente, os talentos recebidos, atento à recomendação evangélica de que “a quem muito é dado, muito lhe é pedido”.
O homem não é mero produto da realidade, mas um transformador da realidade. E, também, um fazedor de realidades, construindo e construindo-se, numa febricitante inquietação artesanal, para se multiplicar em suas próprias obras. A sociedade humana não é apenas uma tentativa, como apregoava Nietzsche, mas o exercício e aprimoramento de uma genética espiritual, em permanente enriquecimento cromossômico, graças à atividade fecundante dos grandes gênios da humanidade. Porque a espécie humana não se perpetua apenas pela hereditariedade física, mas também pela continuidade metafísica da genealogia do conhecimento.
Na verdade, não se pode conceber a convivência acadêmica como um processo de mumificação intelectual, mas, sim, como oportunidade sempre renovada de desenvolvimento crescente da capacidade criadora, através do indispensável diálogo, num procedimento dialético altamente produtivo. Academiar-se não é acomodar-se, mas incomodar-se com as alternativas da realidade do seu tempo. Não há criação na inércia, mas nas crises e nos desequilíbrios, pois a vida é movimento, é mudança e o próprio êxtase do santo é resultado de uma intensa atividade espiritual.
É mister que o acadêmico seja dotado de um espirito universalista, capaz de interessar-se por todas as áreas do conhecimento humano. Isto não importa dizer que ele possua uma cultura enciclopédica, mas que, ao menos, revele um mínimo interesse autêntico por outros setores da atividade intelectual, além daquele a que se dedicou ou no qual se especializou. Aliás, a especialização é uma imposição de conteúdo pragmático e não uma necessidade espontânea do espírito humano, sempre ávido de crescimento em todos os níveis. Por isto, não mais se compreende, na era das comunicações, a vocação pelo intelectualismo monástico, a profissão do monólogo, o monopólio setorial do conhecimento.
Mais do que nunca, o estilo da vida moderna está a exigir das pessoas um permanente estado de alerta e uma aguçada sensibilidade crítica. Vivemos, intensamente, o sentimento e a experiência do transitório. Nada nos parece sólido e confiável, mas fluido, impermanente, duvidoso. Habitamos o século do descompromisso, da probabilidade, do indeterminismo, da relatividade. A epistemologia entra em colapso, pois a única certeza que o conhecimento científico nos dá é a incerteza do próprio conhecimento. Então, o homem, a contragosto, começa a sentir a compulsão de se acostumar a conviver com a insegurança e pressente que a fé não é, fundamentalmente, um sistema de dogmas, mas uma atitude madura perante a perplexidade do existir. Viver se torna um ato de fé, pois a razão é apenas instrumento hábil para estabelecer relações pragmáticas com a realidade imediata e não para conhecê-la. A competência epistemológica do homem é, assim, limitada e a sua atividade jurisdicional está restrita, em última análise, ao próprio fenômeno humano. E, assim, ele compreende a inutilidade de dar ou procurar respostas, esmerando-se, ao contrário, no exercício de fazer perguntas adequadas, pois é nessa atitude de permanente questionamento, equivalente á dúvida metódica cartesiana, que ele se torna, cada vez mais, ciente e consciente da fascinante complexidade da vida. É esta consciência lúcida do mistério que faz da existência uma aventura sempre renovada que levou Albert Einstein, misto de cientista, filósofo e poeta, a asseverar: “O mais belo dos sentimentos que podemos experimentar é o do mistério. É a emoção fundamental que surge no berço da verdadeira arte e da verdadeira ciência. Aquele que não a conhece e que não mais consegue maravilhar-se, não mais assombrar-se, está praticamente morto, como uma vela apagada”. O assombro do cientista perante o mistério da vida corresponde ao alumbramento do poeta ante o impacto da beleza.
Corresponde, em outro nível, ao êxtase do santo, embriagado de Deus. A ciência é a arte do conhecimento provisório e a arte é a ciência instantânea da beleza. Só o homem medíocre é insensível ao processo de renovação da vida, de transformação de todas as coisas, porque, como bem o define Ingenieros, ele “só tem rotinas no cérebro e preconceitos no coração”.
O acadêmico, afeito ao estudo e à observação, de inteligência treinada e aguda sensibilidade, é uma importante testemunha do seu tempo. Ele participa dos impasses e das angústias de sua geração e sente, mais profundamente, o drama urbano da solidão, do anonimato desindividualizante, da massificação, em todos os níveis, na convivência diária das megalópoles, num processo, talvez irreversível, de entropia social e psicológica. Ele pressente, em clima de depressão, que o mero somatório do conhecimento científico e tecnológico, em vez de produzir libertação, constituí uma gradativa subtração da felicidade. E constata que o conhecimento e o controle do universo exterior não resolvem, por si só, os complexos problemas do espirito humano. Por isto, observa, impotente, a inversão teleológica dos valores, onde o homem, na alucinada conquista do mundo material, perdeu as coordenadas do seu próprio destino, passando a servir as coisas e não a servir-se das coisas. Tal constatação faz lembrar a oportuna advertência de Erich Fromm: “Fazemos máquinas que agem como homens e produzimos homens que agem como máquinas”. Esta, por certo, é a verdadeira idolatria, encontrável, infelizmente, em todos os tempos e lugares. Quando o homem presta culto e se submete a algo que ele mesmo construiu, seja uma ideia ou seja uma estátua, comete crime de idolatria. É um blasfemo da própria condição humana.
A sociedade, portanto, é o instrumento mais adequado para o homem desenvolver as suas potencialidades. E se ao contrário, ela mutila ou atrofia personalidades, a culpa não lhe cabe, mas, sim, aos próprios homens que ainda não sabem, adequadamente, conduzir-se em seu relacionamento recíproco. Sociedade e liberdade não são expressões antinômicas, mas a sua conciliação é um permanente desafio à inteligência e ao bom senso. Por isto, Krishnamurti enfatiza a necessidade de “ajudar o homem a ser livre e a compreender o problema do ajustamento; ajudá-lo a obedecer, sem ser escravo da sociedade… mantendo sempre aquele extraordinário espirito de liberdade”. O estado natural do homem é o de comunhão com o seu semelhante. Daí, porque, por mais paradoxal que pareça, ele prefere o conflito da vida social à estéril tranquilidade de um isolamento definitivo. Tinha razão, portanto, Espinoza quando asseverou que “nada existe mais útil ao homem do que o próprio homem”.
A Academia é uma das mais produtivas formas societárias, pois congrega, geralmente, os espíritos mais cultos, lúcidos e criativos da comunidade, favorecendo o intercâmbio permanente de ideias entre os seus membros. Contudo, é necessário que as Academias não realizem um trabalho isolado ou que apenas estabeleçam, entre si, relacionamentos formais e esporádicos. Creio, porém, que o encontro desta noite constitui, historicamente, o marco inicial de um programa integrado de ação acadêmica, resultando na ampliação das atividades culturais do nosso Estado.
Assim, ao encerrar este breve discurso, penso eu, em tempo hábil, quero parabenizar a Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro, na pessoa do seu dinâmico presidente, Dr. Nicolino Limongi, pelo êxito deste empreendimento e agradecer em meu nome pessoal e em nome de todos os homenageados os diplomas de acadêmicos eméritos com que fomos distinguidos.
Realizei palestras: a) na II Semana de Estudos sobre Parapsicologia (de 21 a 25 de janeiro de 1980) na Universidade Católica de Pernambuco; b) na Loja teosófica “Estrela do Norte”, sob o tema “Parapsicologia e Misticismo”; c) no Rotary Club dos Guararapes, sobre Parapsicologia, em 3 de dezembro.
Fui relator da Mesa Redonda “O Paciente Terminal em Geriatria” – Aspectos Jurídicos, no II Curso de Geriatria e Gerontologia, promovido pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Seção de Pernambuco e Centro de Estudos Geriátricos e Gerontológicos de Pernambuco, realizado no Recife, de 16 a 21 de novembro. E debatedor da Mesa Redonda “Problemática Existencial do Idoso, no I Simpósio de Geriatria e Gerontologia, promovido pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Seção de Pernambuco e Centro de Estudos Geriátricos e Gerontológicos de Pernambuco, realizado no Recife, de 27 a 29 de novembro.
A revista Planeta, de janeiro de 1980, noticiando sobre o 2º Congresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrônica, em reportagem assinada por Evandro Ouriques e intitulada MUNDO PSI: ONDE CIÊNCIA E TRADIÇÃO SE ENCONTRAM, teceu considerações a minha participação naquele evento:
Fazendo ciência parapsicológica
A tese “Telepatia — sugestões para a pesquisa”, apresentada pelo também advogado e presidente do Instituto Pernambucano de Pesquisas Parapsicológicas (IPPP) Walter Rosa Borges, foi considerada uma das melhores. Isto porque o autor trabalhou diretamente sobre a questão da metodologia do estudo psi, ou seja, sobre a construção do instrumental de abordagem, fundamental para qualquer ciência. “Na verdade”, disse ele, “o arsenal científico de que dispomos, de duvidoso valor epistemológico, é operacionalmente insuficiente para situar, adequadamente, o fenômeno paranormal em qualquer de seus modelos consagrados. Por isso, a psi é o patinho feio do grêmio científico”.
Talvez para fazer com que a parapsicologia siga a velha história infantil e transforme-se, com o tempo, num belo cisne, Walter alertou o Congresso. Lembrou, por exemplo, que é mais difícil encontrar bons pesquisadores do que bons médiuns: “Pesquisador só quer saber de médiuns excepcionais”. Em sua opinião, “precisamos é aprender a tirar o máximo dos fronteiriços paranormais, estes médiuns discretos e que têm muito para dar”. Não deixou de fazer uma crítica aos sensitivos espíritas, “que se negam a colaborar com as pesquisas pois creem que seus fenômenos são manifestações teta (de sobreviventes à morte). Não nego essa crença, mas o caso é que a ciência só caminha estudando o que lhe é mais palpável. É como disse o grande pesquisador espírita Ernesto Bozzano: precisamos estudar os poderes do espírito humano encarnado”.
Sensitividade e bioquímica
A emoção, conforme sublinhou, é fator importante na intensificação dos fenômenos telepáticos (a própria palavra telepatia quer dizer sofrimento à distância). Por isso é tão comum entre seres apaixonados. Mas como é raro dispor-se de casais para as experiências. Walter e o IPPP partiram para o reforço grupal: vários sensitivos emitindo o mesmo sinal para um só receptor. Entre a variada e sistemática nomenclatura que vem procurando fixar, Walter apresentou o conceito de padrão psíquico, semelhança estrutural e energética entre indivíduos, o que facilita, além da emoção, a telepatia. Sobre o mesmo assunto, o prof. Ivo Cyro Caruso, do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, mostrou seus trabalhos baseados na Teoria da Informação e no cálculo de probabilidades aplicados ao Baralho Zener, também fonte de pesquisas de Walter Rosa Borges.
Em abril, nova retirada do programa, também por motivos nebulosos. Porém, dessa vez, o tempo foi mais curto e a volta do programa foi saudada, mais uma vez, por Roberto Motta em artigo publicado no Diário de Pernambuco, em 10 de maio de 1980.
O Grande Júri
“Válter da Rosa Borges me telefona, comunicando o retorno de “O Grande Júri” à Televisão Universitária. Também presidente da Academia Pernambucana de Ciências (de todas as ciências e de muitas letras), há bem quinze anos Válter é produtor e animador desse programa eminentemente pernambucano, saborosamente pernambucano, indispensável em nossa televisão, com público certo e fiel nas classes A, B e C. Sei disso muito bem, porque, qualidade de grão-jurado bissexto, participando ocasionalmente de debates mais diretamente afetos a áreas de meu interesse, várias vezes me ocorreu ser reconhecido em situações as mais diversas. Na banca de revistas, por exemplo: “Ah, o senhor não estava, a semana passada, no programa do Dr. Válter? Minha mulher e eu ficamos de pleno acordo com seu ponto de vista. A propósito, o senhor conhece, sobre aquele assunto, o livro de José Ingenieros, o pensador argentino? Não? Será possível?”
Felizmente sou pessoa de hábitos morigerados e minha vida é um livro aberto. Posso ser reconhecido sem o menor constrangimento. Cultivo a virtude com assiduidade e nada tem a recear de minha parte (nem eu dele) certo cronista, verdadeiro de nossa imprensa, com quem me atribuem vaga semelhança de fisionomia ou biótipo. Telespectadores ou leitores de jornal mais apressados cometem enganos que considero altamente lisonjeiros: “Já sei quem é o senhor. É fulano de tal. Vejo sempre seu retrato no jornal. Quer dizer que toda semana o senhor gosta de comprar a revista Time, não é? Aliás, na última vez que vi o senhor na televisão… Se tento corrigir o equívoco, pensam que é modéstia. E não deixa de ser, pois muito me envaidece a confusão.
Falei no caráter marcadamente local de O Grande Júri. Devemos respeitar as coisas da província. Por que dependeríamos servilmente do que nos chega do Rio ou de São Paulo? Por que iríamos testemunhar pessimamente a marginalização dos nossos valores? Não nos enganemos. Os grupos, as igrejinhas do Sul-Maravilha, possuem interesses e compromissos, não estão necessariamente pautados pelo mérito, encaram com antipatia a concorrência de outros Estados. Isso em muitíssimos campos, sem excluir a Comunicação ou os “mass midia”. Sim, com certeza, também por lá se encontram nordestinos. É para disfarçar. São nordestinos simbólicos, feito nas recepções elegantes e nas grandes firmas de Nova Iorque, onde sempre se encontra um ou outro negro, “token Blacks”, para os grã-finos demonstrarem que não têm preconceito.
Precisamos prestigiar nossos programas de debates, nossos grupos de teatro, nossos suplementos literários, nossos cronistas e comentadores, nossas editoras divulgando nossos escritores. Existe público para tudo isso. Para o artesanato da palavra, além do artesanato das artes plásticas, de que falou Sebastião Vila Nova, com o brilho de sempre, em seu último artigo nesta página. É sobretudo dentro deste contexto de autêntico orgulho de província ou região que saúdo a volta de O Grande Júri. Grande Júri às vezes demasiadamente modesto, sem jamais se arrogar em órgão supremo da sabedoria universal, mas, ao contrário, sensato, equilibrado, representativo, pernambucano.
- S. O primeiro programa, às 20 horas do domingo, vai tratar de tema atualíssimo: Ecologia e Defesa da Natureza. Na outra semana, discussão sobre o aborto.”
O Jornal Universitário, da Universidade Federal de Pernambuco, na sua edição de abril — 1980, publicou a seguinte entrevista:
Mundo exterior será dominado pela mente humana, admite parapsicólogo.
Walter Rosa Borges, estudioso e pesquisador da Parapsicologia em Pernambuco, autor do livro «Introdução ao Paranormal», Professor nas Universidades Federal (Sociologia) e Católica de Pernambuco (Direito Civil), afirma que, «a Parapsicologia tem demonstrado que o homem é muito mais do que aquilo que ele suspeitava. Ele é detentor de poderes e faculdades que, em futuro não tão distante, poderão tornar obsoletos seus adjutórios materiais. Será, não resta dúvida, o definitivo domínio da mente sobre a matéria, sem necessidade do concurso dos habituais intermediários físicos. Porque a mente do homem será a sua natural extensão, o seu único instrumento de atuação sobre o mundo exterior», admite.
Borges defende a inclusão do estudo da Parapsicologia como disciplina universitária, considerando o elevado estágio que essa ciência já atingiu. O entrevistado se dedica a esses estudos e pesquisas há 25 anos, sendo atualmente presidente do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas (IPPP), do qual é fundador juntamente com um grupo de estudiosos. Sua tese — «Telepatia, Sugestões para a Pesquisa» —, apresentada no recente Congresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrônica, realizado no Rio de Janeiro, alcançou notória distinção.
- — Que impressão teve você do II Congresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrônica?
- — Este Congresso, realizado em outubro de 1979, no Sheraton Hotel, no Rio de Janeiro, promovido pela Associação Brasileira de Parapsicologia (ABRAP), se constituiu em acontecimento histórico para o movimento parapsicológico brasileiro. As teses, nele apresentadas, revelaram o alto nível científico que já atingiu esta ciência em nosso país. Podemos afiançar que, no todo, o congresso atingiu as suas finalidades, reunindo parapsicólogos dos Estados do Amazonas, Pará, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
A ABRAP, à qual somos filiados, consagrou, definitivamente, a sua liderança na Parapsicologia brasileira, graças ao dinamismo invejável do seu presidente Prof. Mário Amaral Machado. O III Congresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrônica será realizado em 1981, na região Norte-Nordeste, possivelmente em Amazonas ou Pernambuco.
Foi aprovado, naquela oportunidade, o código de ética do parapsicólogo, que consta, em um dos seus artigos, a proibição da utilização da Parapsicologia como instrumento de combate ou apologia de qualquer credo religioso ou sistema filosófico Finalmente, o que nos causou justificada satisfação foi o fato de ter sido a nossa tese «Telepatia, Sugestões para a Pesquisa», considerada uma das melhores apresentadas naquele Congresso. Em nossa tese, elogiada logo após a sua leitura pelo parapsicólogo e psiquiatra, dr. Eliezer C. Mendes, num gesto espontâneo que muito nos sensibilizou, elaboramos duas hipóteses de trabalho — a telepatia com reforço grupal e a psi-gestalt — cujos aspectos estatísticos e matemáticos, arrimados em base experimental, foram brilhantemente desenvolvidos pelo dr. Ivo Cyro Caruso, em tese especial enviada àquele Congresso.
- — O que significa Psicotrônica?
- — A Psicotrônica, se assim nos podemos exprimir, é uma especialização dentro da Parapsicologia. Consiste na utilização de instrumentos especiais, que, segundo dizem, podem captar a telergia ou bioenergia que todos os seres vivos, potencialmente, possuem, armazenando-a para utilização posterior. Creem os parapsicólogos tchecos que esses «geradores psicotrônicos» poderão substituir os médiuns, apresentando um desempenho muitas vezes superior ao deles. Até o momento, no entanto, não temos conhecimento de que os «geradores psicotrônicos» tenham conseguido esta façanha.
- — Quem são os expoentes da Parapsicologia no Brasil? Há bons trabalhos, aqui, sobre o assunto?
- — Firmamos o nosso critério de escolha, não só nas qualificações pessoais de cada parapsicólogo, mas principalmente, na qualidade dos seus trabalhos publicados. Assim, destacamos, como expoentes da Parapsicologia brasileira, o dr. Hernani Guimarães Andrade, engenheiro e presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas (IBPP), cuja fama é internacional; o padre Oscar Gonzalez Quevedo, diretor-presidente do Centro Latino Americano de Parapsicologia; e o dr. Alberto Lyra, psiquiatra. Queremos, aqui, destacar o brilhantismo de outros parapsicológicos, como o dr. Carlos Alberto Tinoco, engenheiro, os drs. Eliezer C. Mendes, Jorge André, psiquiatras os quais tive a satisfação de conhecer pessoalmente por ocasião do aludido Congresso. Em Pernambuco, só existe o nosso livro «Introdução ao Paranormal».
- — Pode-se conferir status de ciência à Parapsicologia?
- — Toda ciência tem objeto próprio e determinado procedimento metodológico. A Parapsicologia tem objeto definido — os fenômenos paranormais. E adota, em suas pesquisas, segundo a orientação de cada parapsicólogo e na conformidade dos fenômenos observados e controlados, tanto o método quantitativo-estatístico-matemático, quanto o método qualitativo. Por conseguinte, a Parapsicologia é uma ciência.
- — Quais os caminhos a serem percorridos pela Parapsicologia, num mundo cada vez mais dominado pela técnica?
- — Os caminhos da Parapsicologia são os caminhos do próprio Homem. Ela não busca apenas explicações, mas implicações, envolvendo o ser em todas as suas potencialidades. Os fenômenos paranormais são uma evidência incontestável de que a técnica é apenas uma simples estratégia de aplicação racional do conhecimento científico e não instrumento adequado e eficaz para a apreensão da sempre fugidia realidade. Eles demonstram que o real é sempre novo e, por isto, não é redutível a qualquer padrão epistemológico. E o que, na verdade, nos fascina nesta pesquisa não é o pouco que conseguimos apreender, mas, principalmente, o muito, o permanente inédito, que nos estimula a conquistá-lo. A Parapsicologia tem demonstrado que o homem é muito mais do que aquilo que ele suspeitava. Ele é detentor de poderes e faculdades que, em futuro não tão remoto, poderão tornar obsoletos seus adjutórios materiais. Será, não resta dúvida, o definitivo domínio da mente sobre a matéria, sem necessidade do concurso dos habituais intermediários físicos. Porque a mente do homem será a sua natural extensão, o seu único instrumento de atuação sobre o mundo exterior.
- — Que trabalhos tem você desenvolvido sobre o assunto?
- — Há mais de 25 anos que nos dedicamos, não apenas ao estudo sistemático, como também à pesquisa metódica dos fenômenos paranormais. Jamais nos limitamos a elucubrações de gabinete, mas enriquecemos a nossa experiência no trato direto dos casos concretos em grande número de centros espíritas e terreiros de umbanda.
Em 1º de janeiro de 1973, fundamos o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, do qual somos presidente desde aquela data. Em 1974, ministrei curso de Parapsicologia na TV Universitária Canal 11.
Em 1976, publiquei o livro «Introdução ao Paranormal», o qual foi lançado no dia 29 daquele ano, na TV Universitária Canal 11, em solenidade presidida pelo reitor da U.F.PE, o Prof. Paulo Maciel. Ainda em outubro do mesmo ano, a convite da Fundação Cultural do Estado da Paraíba (FUNCEP), com o apoio da Universidade Federal da Paraíba, ministramos um curso de parapsicologia no auditório da Reitoria daquela Universidade. Em outubro de 1979, participamos, na qualidade de Congressista Titular do II Congresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrônica, realizado no Rio de Janeiro. Finalmente, em 1979 e 1980, sob o patrocínio Universidade Católica de Pernambuco, ministram dos cursos de Parapsicologia, sob o título sugestivo de Semana estudos sobre Parapsicologia (I e II), no auditório da referida Universidade.
- — Até que ponto poderia a Universidade brasileira incluir, nos seus currículos, uma cadeira de parapsicologia ao menos como disciplina optativa?
- — A Universidade brasileira já há muito deveria incluir a Parapsicologia no ensino universitário. Este seu alheamento injustificável em relação ao desenvolvimento desta pode ser interpretado, à primeira vista, como uma atitude retrógrada, um conservadorismo intransigente que não mais de coaduna com o espírito cientifico contemporâneo. Muitas universidades nos Estados Unidos, Argentina, Reino Unido, Holanda, Alemanha e Índia oferecem cursos de mestrado e doutorado em Parapsicologia. Recentemente, no Brasil, a dra. Adelaide Petters Lessa, em seu doutorado em Psicologia, defendeu como tese, no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, o seu notável livro «Precognição» que é, hoje, indubitavelmente, um clássico sobre o assunto. A Parapsicologia tem apresentado um extraordinário desenvolvimento também nos países comunistas: Rússia, Tchecoslováquia, Polônia, Romênia e também na Alemanha Oriental. Convém, ainda, salientar que, em 30.12.69, a Parapsychological Association foi aceita como membro da famosa American Association For The Advancement Of Science. Pernambuco bem que poderia ser o pioneiro na criação de cursos ou de cadeira de Parapsicologia na Universidade.
- — Há, por acaso, interesses comuns capazes de ligarem a ciência psicanalítica à ciência parapsicológica?
- — Claro que sim. Afinal, todos nós nos interessamos em conhecer cada vez mais as estruturas mais profundas da mente humana. Somos escafandristas empenhados na mesma aventura submarina, partilhando de assombros paralelos ante a luxuriante paisagem deste pélago psíquico. E o Inconsciente é, por certo, o território comum de todos os psiquiatras, conquanto disputem sobre os modos e as preferências na exploração dos seus recursos.
- — A Parapsicologia dispõe de elementos capazes de explicar de forma concreta o fenômeno do sonho?
- — A Parapsicologia não se ocupa, especificamente, com os sonhos, mas se preocupa com tudo aquilo que os sonhos possam revelar a respeito do misterioso universo do Inconsciente.
Ainda não existe uma codificação, de natureza estritamente científica, para explicar o sonho, mas tão somente duvidosas abordagens empíricas, de mistura, não raro, com práticas mágicas e supersticiosas.
Dúvida não há de que a maioria dos sonhos é produzida por elementos extraídos das atividades vigílicas, associados a conteúdos desconhecidos do psiquismo profundo. É esta a razão pela qual os sonhos se apresentam tão ilógicos, principalmente se os queremos compreender pelos padrões do nosso comportamento consciente e convencional. Os sonhos são mensagens vertidas em linguagem de abstruso simbolismo e de gramática singular.
Há sonhos, porém, de natureza paranormal. Estes, sim, interessam particularmente à Parapsicologia, porque favorecem uma maior compreensão dos possíveis mecanismos dos fenômenos de psi-gama, notadamente o da telepatia.
- — O que faz, como funciona e quais as perspectivas do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas (IPPP)?
- — O I.P.P.P. é a única sociedade civil, de natureza científica, que, em Pernambuco, se dedica ao estudo e à pesquisa dos fenômenos paranormais.
Como já dissemos, anteriormente, ele foi fundado em 1º de Janeiro de 1973 e, durante todo esse tempo, vem cumprindo, na medida de suas possibilidades, o seu programa de ação, promovendo seminários, realizando pesquisas, aprimorando o nível técnico de sua equipe, elaborando e testando teorias e construindo gradualmente seu arsenal tecnológico para melhor observação e controle dos fenômenos paranormais. E, tudo isso, às expensas dos seus associados, cujo número é irrisório, visto que a sociedade não recebe qualquer tipo de ajuda financeira, seja ela municipal, estadual ou federal. O que explica, portanto, a sobrevivência do I.P.P.P. é o incansável idealismo dos seus pesquisadores.
Em nossa sede provisória, à Rua da Concórdia, 372, salas 46 / 47, realizamos, regularmente, reuniões de estudo e experiências, utilizando procedimentos metodológicos variados, na conformidade da natureza dos fenômenos pretendidos ou apresentados. A orientação e execução da programação científica do I.P.P.P. está sob a responsabilidade de um colegiado, assim constituído: Valter da Rosa Borges, promotor público, Aécio Campello de Souza, engenheiro, Ivo Cyro Caruso, engenheiro e Geraldo Fonseca Lima, médico.
O nosso telefone pessoal — 3612337 — está à disposição dos interessados para qualquer informação sobre o assunto ou comunicação referente a manifestações paranormais, notadamente no Recife e municípios próximos.
A Academia Pernambucana de Ciências continuava em rápido crescimento. No dia 30 de junho, no auditório da TV Universitária Canal 11, realizei a posse dos novos acadêmicos Adônis Reis Lira de Carvalho, André Freire Furtado, Armando de Albuquerque Souto Maior, Geraldo Lafayette Bezerra, Hélio Teixeira Coelho, Jaime de Azevedo Gusmão Filho, Jaime Cavalcanti Diniz, Jayme Cesar Figueiredo, Jamesson Ângelo Ferreira Lima, Jônio Santos Pereira de Lemos, Ricardo Jorge Lôbo Maranhão e Waldênio Florêncio Porto.
Em 10 de dezembro, a Academia Pernambucana de Ciências, a Universidade Federal de Pernambuco e a União Colégio e Curso, tendo como interveniente o Núcleo de Televisão e Rádio da Universidade Federal de Pernambuco, representados respectivamente por mim, por Geraldo Lafayette Bezerra, por Salomão Jaroslavski e por Edson Magalhães Bandeira de Mello assinaram um convênio de colaboração cultural para a gravação e divulgação de programas de elevado índice educacional e cultural, integrado ao programa O Grande Júri.
Infelizmente, o projeto não vingou.
Grupo do I.P.P.P.