2014

Palestra “Uma releitura de Arigó e Thomas Green Morton”, no XXXII SIMPÓSIO PERNAMBUCANO DE PARAPSICOLOGIA. 29 de novembro de 2014, na sede do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas.

 

Palestras sobre filosofia, na sede do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas: 8 de março – Os filósofos pré-socráticos; 12 de abril – Platão; 3 de maio – Aristóteles; 14 de junho – Epicurismo e Estoicismo; 12 de julho -Santo Agostinho; 19 de julho – O Universo Onírico; 23 de agosto – Mestre Eckhart; 6 de dezembro – Thomas Hobbes.

 

Lançamento do livro Os Olhos da Solidão na sede do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas

Diploma de Sócio Benemérito da Academia Pernambucana de Ciências, que me foi outorgado em sessão solene da instituição no auditório do Espaço Ciência de Pernambuco em 9 de maio de 2014.

Comemoração dos meus 80 anos no salão de festas do Edifício Vila Tramandaí

Segunda, 30 de Junho de 2014

CAPA

A ciência se curva

Estudos e pesquisas com bases científicas desenvolvidos no Brasil e no mundo tentam explicar (e entender) os fenômenos paranormais

Texto: Eliana Fonseca | Fotos: Arte: Paulo Werner, Joel Rocha, Marcos Rosa, Cristiano Marinz

O que há de inexplicável em nossas vidas? A perda de um ente querido, vítima de uma tragédia. As indagações existenciais. Uma descoberta da ciência de difícil entendimento para os simples mortais – vide a criação do Gran­de Colisor de Hádrons (LHC), no trabalho para achar a partícula de Deus. Outros encontram o incompreensível em alguns relatos de gente que entorta e move objetos com a força do pensamento. Naqueles que se comunicam por telepatia. Ou naqueles que têm a capacidade de prever fatos antes de acontecerem. Há aqueles que chegam aos hospitais e encontram o impensável – médicos e paranormais debruçados em um mesmo pro­jeto, o de tentar associar as percepções extra-sensoriais ao diagnóstico médico-hospitalar. O projeto em questão não faz parte de nenhum filme ou série norte-americana e, sim, está sendo desenvolvido no Brasil. Mais precisamente pelo Nú­cleo de Estudos dos Fenômenos Paranormais (NEFP) da Universidade de Bra­sília em parceria com o Hospital Universitário de Brasília (HUB) desde o início do ano. O projeto integra uma tendência de alguns cientistas e pesquisadores brasileiros: estudar, com seriedade e rigor científico, os chamados fenômenos extra-sensoriais.

Certo, o pensamento recorrente é associar esses tipos de fenômenos à charlatanice ou à religiosidade. Porém, não é novidade que os Estados Unidos e a Rússia iniciaram, há bem mais de três décadas, estudos sobre o assunto. Há pesquisas que indicam que pelo menos 20% da população mundial tenha lidado com algum desses fenômenos no decorrer de sua vida. No Brasil, pelo menos três instituições de ensino renomadas, a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a Uni­versidade de São Paulo (USP) têm pesquisadores e projetos com foco nos chamados fenômenos paranormais. Há também o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas (IPPP) e a Faculdades Integradas Es­pírita, no Paraná, que se debruçam em estudar o tema. “Cabe às pesquisas distinguir entre os que podem ser considerados fenômenos paranormais, da­queles que possivelmente es­tão associados a psicopatologias”, expli­ca o físico Álvaro Luiz Tronconi, coordenador do NEFP.

A regra básica de separar as psicopatologias dos fenômenos paranormais pode soar estranha. Se­gundo o psiquiatra Alexander Mo­reira Almeida, diretor do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saú­­de da UFJF, os chamados fenômenos de transe eram considerados, no século passado, a terceira maior causa de loucura no país. “Atualmente, para considerarmos al­go como doença mental é preciso analisar se o comportamento da pessoa gera sofrimento ou incapacitação”, avalia Almeida. Entre 2001 e 2005, o psiquiatra analisou o perfil sociodemográfico e saúde mental de 115 médiuns. A pesquisa envolvia o estudo do impacto desses fenômenos na vida das pessoas, a adequação social no trabalho, com a família, apontando a presença, ou não, dos chamados transtornos dissociativos (quando uma parte da mente funciona de forma independente). “Os médiuns não tiveram pontuação de sintomas psiquiátricos ou desajuste social. Para nossa surpresa, aqueles que tinham maior incorporação mediúnica eram os que tinham maior adequação social”, afirma. Para o psiquiatra, chegou a hora de estudar quais as implicações desses fenômenos na vida das pessoas, quais os impactos, que alterações causam no cérebro.

A paranormal Rosa Maria Jaques, 60, está participando da pesquisa do NEFP no Hospital Universitário de Brasília. Ela é paranormal desde criança e passou por diversas religiões para tentar entender sua vidência e telepatia. Sentiu-se vítima de preconceitos, não gostava dos rótulos. Na ciência, encontrou a possibilidade de uma discussão ampla e aberta sobre suas experiências, que chama de transcendentes. “Acredito que nada substitui a prática como forma de obter conhecimento, vivenciar meus limites na procura do entendimento do que acontecia comigo e auxiliar outros paranor­mais a sofrerem menos preconceito, deboche ou serem rotulados de loucos. Submeti-me a todos os testes. Entendi a dificuldade que a percepção racional tem em analisar processos sensitivos como também o papel da fantasia no emaranhado mundo místico/religioso”, afirma.

 

Rosa agora integra o grupo de paranormais que participam da pesquisa no HUB. Diz que fará no hospital o que já faz com todas as pessoas com quem conversa. “Realizo uma espécie de triagem para saber o que incomoda, se há alguma doença. Parto do pressuposto que tudo pode ser provado”, diz a paranormal. O coordenador da pesquisa do HUB, Álvaro Tronconi, evita informar qualquer resultado desta pesquisa e afirma que outros dois estudos estão em desenvolvimento: uma para discernir possíveis traços de paranormalidade e de psicopatologia entre pessoas consideradas sensitivas e outro, na área ufológica, para entender a relação de alguns padrões mentais com a percepção de tipos de eventos nesta área. Porém, o pesquisador afirma que esses fenômenos não observam os limi­tes da metodologia adotada no meio científico. Para se ter uma ideia do que acontece, a repetição do fenômeno paranormal não ocorre da mesma forma que a da medição do valor da aceleração da gravidade. Essa falta de padrão é uma das grandes dificuldades dos pesquisadores. “É preciso buscar o rigor científico, mas é necessário, também, adequá-lo à realidade do fenômeno”, avisa Tronconi.

O coordenador do Núcleo de Fenômenos Paranormais já levou muitos não para inúmeros projetos. Teve que buscar financiamento de instituições internacionais para sua pesquisa – a do HUB está sendo financiada pela portuguesa Fundação Bial. Curiosamente, quando se sentou com a classe médica do HUB para propor o projeto não encontrou qualquer barreira. “Os médicos hoje presenciam fatos que mostram que determinado conhecimento não está sobre o domínio total da academia. Isso faz com que a área de saúde em geral esteja muito sensível à temática”, explica. Para enfrentar essa barreira da complexidade dos fenômenos paranormais e da desconfiança sobre a possibilidade de realização de estudos cientificamente consequentes, começam a pipocar pesquisas como as do Laboratório de Psicologia Anomalística e Processos Psicossociais da USP. Para o professor Wellington Zangari, que integra o laboratório, há uma evolução no país na área de fenômenos extra-sensoriais, principalmente pelo crescente número de pesquisas. Somente na USP, nesta área, já são um estudo de iniciação científica, quatro de mestrado, quatro de doutorado e um de pós-doutorado concluído. “Outro fator importante tem sido o recente entrosamento entre pesquisadores de vários estados como Pernambuco, Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo. Eles têm se reunido bianualmente nos Encontros Psi (Paranormais) e buscado diálogo com estudiosos de outros países”, conta.

Atualmente, a USP já realizou um mapeamento das experiências paranormais em 306 pessoas, entre 18 a 66 anos. Nela, 82,7% alegaram ter vivenciado pelo menos uma experiência anômala extra-sensório-motora; há estudo de como as pessoas paranormais desenvolvem suas identidades psicossociais e como suas crenças paranormais são importantes para a constituição de suas personalidades; outra sobre a relação entre transe e a sociedade brasileira. Mas nem sempre a perspectiva científica é favorável à existência dos fenômenos paranormais. Em pesquisa realizada pelo próprio Zangari com 52 médiuns que alegavam poder para conhecer o futuro por meios paranormais, o resultado foi ou que esse poder não existia ou ele não podia ser capturado pelo método empregado pelo estudioso.

Fora das universidades, profissionais de áreas distintas também realizam pesquisas científicas para tentar investigar os fenômenos extra-sensoriais. É o caso do delegado-chefe do Serviço e Registros Policiais para Investigação do Paraná, João Alberto Fiorini de Oliveira. Há cerca de dez anos, um dos meios utilizados por ele para solucionar um desaparecimento foi a parceria com um paranormal. O sensitivo localizou o corpo da pessoa, mas Oliveira lembra que foi o único trabalho na solução de crimes. “Na época era muito cético, não acreditava que essa parceria seria possível.” Tudo mudou há cerca de oito anos, quando o delegado viu notícia em um jornal sobre o caso de uma pessoa que teria a mesma impressão digital de outra que havia morrido. O espanto foi tão grande que resolveu iniciar uma pesquisa em que utilizou técnicas forenses como a datiloscopia – processo de identificação humana por meio de impressões digitais, o retrato falado, a grafoscopia – a escrita como marca pessoal, a genética, a medicina e a odontologia legal, biologia, química, física e psicologia. O resultado está no livro Reencarnação – Investigação Científica, lançado pela editora Sergraf. “Pesquisei mais de uma centena de pessoas. De fato, não houve qualquer comprovação de duas pessoas com as mesmas impressões digitais”, relata o delegado.

Para o presidente e fundador do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, Valter da Rosa Borges, essas e outras pesquisas científicas es­tão fazendo um caminho sem volta, em que a aproximação dos fenômenos paranormais da ciência está cada vez mais forte. O IPPP realizou, nas últimas décadas, dezenas de estudos de casos aparentes de manifestações paranormais espontâneas, a quase totalidade delas de fenômenos poltergeist. Nem todas porém, como informa Borges, eram de natureza paranormal.  “Atual­mente, estudamos coisas do cérebro humano que pareciam de outro mundo há alguns anos. A ciência vai ter de engolir alguns sapos porque o paradigma científico não é um dogma. Logicamente, há pessoas que passaram a vida acreditando em algo e a mudança desse paradigma traz forte reação”, diz.

As instituições livres – não ligadas ao Ministério da Educação – também realizam pesquisas, caso das Faculdades Integradas Espíritas. Nela, há um laboratório de telepatia com os experimentos Ganzseld, realizados há 13 anos. É a única no Brasil que utiliza a técnica alemã. A pesquisa – também financiada pela Fundação Bial – consiste em uma pessoa ficar em privação sensorial em uma sala e outra ficar em outro espaço, tentando ver e sentir o que está se passando na primeira. Os resultados, segundo o coordenador do curso de parapsicologia Reginaldo de Castro Hiraoka têm sido positivos.

Hiraoka busca na mitologia grega o mito do leito de Procusto para refletir sobre o embate entre ciência e fenômenos extra-sensoriais. Procusto vivia numa floresta e tinha uma imensa cama. Todos que passavam por esse local eram presos e colocados por Procusto em sua cama. Os que eram maiores que o leito tinham seus pés cortados. Os menores eram esticados. “Esse leito é justamente o paradigma da ciência, da sociedade, os nossos modelos. Cortamos os pés ou os esticamos para caberem nas nossas crenças. Esses fenômenos incomodam e estão além do nosso conceito de tempo, espaço, matéria. Incomodam porque mexem em todos os princípios norteados pelo que acreditamos. Tudo pode ruir. Quem quer perder a segurança?”

ISTO É

COMPORTAMENTO

|  N° Edição:  2156 |  04.Mar.11 – 12:00 |  Atualizado em 29.Dez.14 – 10:56

A premonição sob a luz da ciência

Estudo feito por um renomado psicólogo da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, reacende o debate sobre a capacidade humana de antever o futuro

Débora Rubin

OUSADIA
Um dos melhores pesquisadores de sua geração, o psicólogo Daryl J.
Bem transgrediu as regras da academia ao estudar sobre premonição

Num diálogo do livro “Alice no Outro Lado do Espelho”, de Lewis Carroll, a continuação do clássico “Alice no País das Maravilhas”, a Rainha Branca diz à Alice que tem memória nos dois sentidos, para o passado e para o futuro. Tese que a menina considera um absurdo: “Ninguém pode acreditar em coisas impossíveis”, rebate. A soberana, no entanto, explica que é somente uma questão de prática e a aconselha a imaginar ao menos seis coisas impossíveis antes mesmo do café da manhã. Menos cético que a carismática personagem, o renomado professor americano Daryl J. Bem, um dos mais proeminentes pesquisadores de psicologia de sua geração, segundo o “The New York Times”, ousou deixar de lado a regra silenciosa que paira sobre o ambiente acadêmico, segundo a qual tudo o que foge de uma explicação racional deve ser solenemente ignorado. E desobedeceu a esse hermetismo em grande estilo, ao investigar a capacidade humana de antever o futuro, popularmente conhecida como premonição. Tal qual a Rainha Branca, ele crê na memória com a seta indicando para a frente.

ESTUDO
O procurador aposentado Valter Borges montou um instituto de pesquisa após a premonição da morte do filho

O mais recente estudo de Bem, publicado no “Journal of Personality and Social Psychology”, da Associação Americana de Psicologia, teve um efeito explosivo sobre a comunidade internacional. Menos por seu conteúdo, também bastante surpreendente, e mais pelas credenciais de seu autor, um notório professor de psicologia da Universidade de Cornell, Nova York, uma das mais prestigiosas dos Estados Unidos. Ele tem mais de 70 artigos publicados e é formado em física pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). Até então, os trabalhos sobre as chamadas percepções extrassensoriais, também conhecidas como ESP (sigla em inglês para extrasensory perception) eram considerados menores, pouco científicos. O de Bem e sua equipe quebraram essa escrita. Em sua pesquisa, Daryl J. Bem relata nove experimentos feitos com mais de mil universitários. Os testes, reproduções de estudos clássicos sobre percepção extrassensorial, eram extremamente simples (leia quadro na pág. 50). Neles, os participantes tinham que antever que tipo de imagem iria aparecer no computador ou em qual das duas janelas mostradas na tela iria surgir uma foto. Quando o conteúdo em questão tinha um teor erótico, os estudantes acertavam mais. “Isso entre pessoas comuns, escolhidas de forma aleatória. Meu palpite é de que se eu usar gente mais talentosa, melhor nisso, elas poderão prever qualquer foto”, disse o pesquisador, sem explicar o que quer dizer, ao certo, “gente mais talentosa”.

CHOQUE
A funcionária pública Erilene Pereira anteviu dois acidentes de carro, com o filho e o cunhado

Segundo Bem, em oito dos nove experimentos houve um índice de acerto acima do que é considerado coincidência ou obra do acaso. Também foi feito um teste no qual o aluno escolhia se queria arriscar mais nas respostas ou se desistia de tentar. “Os que aceitaram correr mais riscos foram os que tiveram mais acertos”, conta Bem. O psicólogo é cuidadoso ao tirar suas conclusões, mas acredita que todo mundo pode ter capacidades precognitivas, embora uns as tenham mais desenvolvidas do que outros. Também explica que as percepções extrassensoriais são fruto do processo evolutivo no qual antever situações de perigo ou propícias à reprodução se tornaram vantajosas ferramentas de sobrevivência. Isso ajudaria a comprovar a existência de premonições.

Outra pesquisa, feita com universitários brasileiros, mostra que pensamentos premonitórios rondam o inconsciente bem mais do que se imagina. Segundo o trabalho realizado em 2008 na Universidade de São Paulo, 71,5% relataram premonição através de sonhos (leia quadro na pág. 55). No Instituto do Sono, de São Paulo, 30% dos pacientes contam ter sonhado com algo que depois se concretizou. Apesar de ser comum e fazer parte da vida de muitos brasileiros, essa capacidade de antever o futuro ainda é encarada como um grande mistério. Poucos cientistas se dispõem a estudar o tema e, mais do que isso, se recusam a comentá-lo. Lá fora, não é diferente. O artigo produzido em Cornell foi recepcionado com duras críticas. Ray Hyman, professor de psicologia da Universidade de Oregon (EUA), disse ao jornal “The New York Times” que o trabalho é loucura pura. “É um embaraço para a categoria”, atacou. Uma das censuras recebidas foi pelo fato de o professor Bem ter avisado os estudantes de que se tratava de um teste de premonição, o que pode ter influenciado as respostas. O físico Rory Coker, da Universidade do Texas (EUA), um crítico contumaz do que chama “pseudociência”, também fez ressalvas ao colega pesquisador. “A ciência não ignora os fenômenos paranormais, o problema é que tudo o que se vê são estudos feitos para provar aquilo no que se acredita. Dificilmente há resultados significativos e poucos trabalhos são reproduzíveis”, disse à ISTOÉ.

Daryl Bem não é o único acadêmico a colocar a mão nesse vespeiro ao longo da história. Em 1934, o professor Joseph Banks Rhine lançou a primeira edição do livro “Percepção Extrassensorial” a partir de vários testes realizados na Universidade de Duke (EUA). Foi ele quem cunhou o termo “parapsicologia” como o nome da ciência que estuda tais fenômenos. Mais recentemente, em 2001, outro professor de psicologia e neurologia da Universidade do Arizona (EUA), Gary Schwartz, testou em laboratório cinco médiuns, entre eles o mais famoso da tevê americana, John Edwards. No experimento, que foi exibido no Brasil pelo canal pago History Channel, Edwards ficava separado de pessoas que queriam saber sobre seus entes falecidos. Eles não se viam, apenas se ouviam e, como no programa, Edwards apenas confirmava as informações. O índice de acertos, segundo o pesquisador, foi de 83%. Schwartz também já esteve na mira do implacável professor Hyman, de Oregon, que o acusou de forjar resultados. “Muitas vezes na história da ciência nós estávamos errados. Quando achamos que a terra era plana, quando consideramos que o sol girava em torno da terra e tantas outras vezes. Prefiro estar sempre aberto a qualquer possibilidade”, defende-se o professor do Arizona.

Para confirmar as teses dos estudiosos no tema, dezenas de relatos de premonições vêm a público diariamente, manifestados por pessoas comuns – que trabalham, estudam, têm filhos, professam uma religião ou não. Elas costumam ser atropeladas em seu inconsciente por um acontecimento, uma certeza, quase um clarão, que se impõe sobre sua lucidez e se materializa em realidade horas, dias, meses depois, deixando-as, normalmente, assustadas. Roteiro cumprido pela arquiteta Silvia Arruda, de São Paulo. Em fevereiro de 1986, ela sonhou com uma cena de quebradeira no Brasil. Gente falindo, perdendo dinheiro, corrida aos bancos e supermercados. No dia seguinte, o então ministro da Fazenda, Dílson Funaro, anunciou o Plano Cruzado, que congelou o valor de salários, bens e serviços e provocou uma das maiores crises do governo de José Sarney (1985-1990). Vinte anos depois, um novo sonho premonitório, menos, digamos assim, coletivo. A arquiteta viu o então namorado com uma dançarina ruiva de cabelos cacheados. Contou para ele como quem relata uma curiosidade e foi ridicularizada. Pouco tempo depois descobriu que ele estava saindo com uma mulher tal e qual a do sonho. Detalhe: Silvia não é mística e nem sequer acredita em premonição. Ou, ao menos, não acreditava. “Não acho que seja algo sobrenatural, mas sim uma capacidade da mente em captar pensamentos e sensações não ditos”, afirma.

VISÃO
A gerente de marketing Carolina Oliveira enxergou a separação de um
casal desconhecido, que aconteceu três meses depois.

Colocar a mediunidade no mesmo pacote das experiências extrassensoriais é assunto delicado. “A parapsicologia não lida com questões transcendentais, como a comunicação entre vivos e mortos, mas sim com a aptidão humana de manifestar poderes incomuns nas relações consigo mesmo, com os outros e com o mundo material”, define o procurador de Justiça aposentado Valter da Rosa Borges, de Pernambuco. Nos anos 70, ele criou o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas (IPPP) para tentar entender esses poderes incomuns, motivado por uma premonição que tivera anos antes. Em 1968, ele perdeu o filho Ulisses, de apenas 4 anos, vítima de um edema pulmonar agudo. “No dia em que ele faleceu, ao sair do apartamento onde eu morava, passei por uma alucinação auditiva. Uma voz me disse, por duas vezes, que meu filho ia morrer naquela tarde”, recorda.

“Não é um fenômeno religioso, não é loucura, paranoia, coincidência nem algo sobrenatural”, argumenta a parapsicóloga Márcia Cobêro, professora do Centro Latino-Americano de Parapsicologia (Clap). “É uma faculdade natural que todos têm, mas poucos se dão conta.” Segundo Márcia, a primeira reação das pessoas que têm premonições é achar que possuem um dom. O segundo passo é temer esse dom. Quando começou a ter premonições, o corretor de imóveis de Santo André (SP) Robson Leiva Lazarini ficou assustado e procurou ajuda na religião – primeiro católica, depois batista. Também criou o blog Sonhos Premonitórios (www.premonitoriosonho.blogspot.com), no ano passado. “As pessoas me mandam e-mails para tirar dúvidas. Não sou especialista, mas tento ajudar contando minha experiência.” Uma das que mais o impressionaram foi com um avião que tentava levantar voo no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, não conseguia, virava para a esquerda e batia num prédio baixo. No dia seguinte, foi buscar um cliente no aeroporto e ficou com muito medo que acontecesse algo com o jatinho dele. Quando o cliente aterrissou, respirou aliviado. Minutos depois, o avião da TAM, voo 3054, colidiu com o prédio da própria empresa após tentar arremeter num dia chuvoso. Lazarini ficou arrasado. “Mas o que eu posso fazer com esses sonhos? Ligar para a Anac e avisar? Não sei o que fazer com eles, então resolvi pelo menos registrar os mais recentes no blog.”

REDE
O corretor Robson Lazarini conta suas premonições, como a de um acidente de avião, em um blog.

A paulistana Carolina Oliveira, 33 anos, gerente de marketing , também foi buscar ajuda para lidar com os eventos estranhos que rondavam sua vida. Há dois anos, ela passou a se sentir parte de um roteiro de filme do além. Luzes que acendiam logo após ela ter apagado, barulhos estranhos e fortes intuições do que estava para acontecer – a tal premonição. Quando morava na Itália, uma amiga apresentou um casal e ela, na mesma hora, sem nenhuma informação, viu os dois se separando em pouco tempo. A amiga negou e disse que eles se davam muito bem. Três meses depois, aconteceu o rompimento. “No começo eu tinha muito medo”, recorda Carolina. “Por isso procurei o espiritismo.” Hoje, ela atribui todos os acontecimentos aos espíritos que a guiam e ajudam no dia a dia. E garante que a vida ficou melhor ao saber lidar com esses episódios.

REAL
A arquiteta Silvia Arruda anteviu a traição do namorado e o advento do Plano Cruzado

“Não existe, até hoje, um estudo que comprove como isso acontece biologicamente. É metafísico e não sabemos como se dá. Mas é inegável que é importante como um processo de autoconhecimento”, destaca o neurologista Luciano Ribeiro, do Instituto do Sono, de São Paulo. Foi essa preocupação que levou a psicóloga Fátima Regina Machado a fazer sua tese de doutorado “Experiências Anômalas na Vida Cotidiana”, defendida na Universidade de São Paulo (USP) em 2010. Segundo ela, o objetivo era justamente chamar a atenção da comunidade acadêmica e dos profissionais da saúde para a importância das percepções extrassensoriais. “Compreendê-las é auxiliar o ser humano a lidar com elas”, destaca. Afinal, argumenta a psicóloga, mesmo sendo um tema marginalizado pela academia, são eventos que “insistem em acontecer” desde que o mundo é mundo.

Na vida da funcionária pública alagoana Maria Erilene Pereira, premonições e fortes intuições insistem em acontecer há algum tempo. Como quando, relaxando em uma rede, ela teve um insight com o filho mais velho, que havia saído com o carro à noite pela primeira vez. Erilene teve uma visão de um sinal próximo de sua casa. Sentiu um aperto no peito e ficou com receio de que acontecesse algo quando o filho passasse por ali. Ligou para ele e pediu que voltasse para casa. O jovem tentou acalmá-la, dizendo que estava tudo bem. Horas depois, ligou, aflito: havia batido o carro naquele local. “Tivemos sorte, só o veículo sofreu danos sérios. Ele ficou bem”, relembra. Muito pior foi o sonho no qual um de seus cunhados recolhia pedaços de um corpo após um acidente de carro. Dois meses depois ela perdeu um outro cunhado numa batida. E aquele do sonho, que recolhia os pedaços, foi o primeiro a chegar ao local do acidente. Os eventos ajudaram Erilene a cuidar de sua espiritualidade e se sintonizar mais com sua intuição. “Isso me ajuda a me conhecer melhor.”

Rory Coker, o físico americano que se dedica a denunciar os malefícios da pseudociência, acredita que tudo não passa de probabilidades. “Se toda vez que um parente meu sofresse algo eu sentisse, aí sim seria um fenômeno a ser examinado. Mas isso acontece muito de vez em quando e, portanto, fica dentro das estatísticas”, diz. No entanto, ele admira a coragem de pesquisadores como Daryl Bem. “É saudável que existam cientistas rebeldes que estão sempre imaginando como trilhar novos caminhos, por mais ­absurdos que eles soem aos nossos ouvidos.” Não à toa, Bem termina seu trabalho citando o diálogo da Rainha Branca e de Alice que abrem esta reportagem. O professor diz que 34% dos psicólogos que estão nas universidades concordam com Alice. E finaliza: “Quem sabe esse estudo não incentive os outros 66% dos meus colegas a investigar ao menos uma coisa anormal por dia.” Afinal, premonições são como as bruxas. Você pode até não acreditar nelas, mas que elas existem, ah, existem.

 

 

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