1957

Depois de cinco anos de namoro e noivado casei-me com Selma Maria Sales Duarte, que passou a chamar-se Selma Maria Duarte da Rosa Borges. O casamento ocorreu pela manhã do dia 24 de dezembro, em cerimônia simples, na matriz de São José, com a presença de meus irmãos, João Olímpio, Fernando e Hilda, e também parentes próximos e o irmão de Selma, Jurandir. E passamos morar na rua Imperial, 415, bairro de São José, onde nasci e morava com a minha mãe Maria Fernandina.

À noite, fomos perturbados por uma serenata ruidosa promovida pelos meus amigos em frente a minha residência.

Comecei a me enfronhar no Espiritismo, quando passei a comparecer às reuniões mediúnicas na casa do sr.  Temístocles Cavalcanti, à Av. José Rufino, cujo número não recordo, no bairro da Estância.

Certo dia, fui com o meu cunhado Edésio Sales Duarte visitar uma vidente que morava na Estância. Entre outras coisas interessantes, ela disse que eu tinha, na minha sala de visita, a fotografia do meu guia espiritual. Perguntei o nome dele e ela disse Joaquim Nabuco. Coincidência ou não, uma das minhas comarcas foi Joaquim Nabuco e a loja maçônica onde fui iniciado era a Joaquim Nabuco nº 18, da Grande Loja.

 

No dia 16 de novembro, em comemora­ção ao seu sétimo ano de existência, o GCJN promoveu uma exposição de pintura dos gremistas Antônio José e de Roberto Barros no Teatro Santa Isabel. No folheto de apresentação, consta o agradecimento do GCJN ao pin­tor Aloísio Magalhães e ao Departamento de Documen­tação e Cultura, na pessoa de seu Diretor, Dr. José Césio Regueira Costa.

 

Ainda do referido folheto extrai, na íntegra, a apresentação que fiz de Roberto Barros:

 

“Roberto Barros nasceu no Recife no ano de 1936.

Até agora viveu e viverá como todo verdadeiro artista intensamente para dentro de si. Os grandes acontecimentos de sua alma são e serão sempre aqueles que se desenrolam na sua interioridade.

Cedo, ingressou no Grêmio Cultural Joaquim Nabuco – ainda usava um pouco de infância nesta época – e logo se afirmou como um dos seus mais destacados membros, graças ao inequívoco pendor, que demonstra­va para as artes plásticas.

O tempo correu. Os olhos do artista se descorti­nam ousadamente, como a nudez de Eva, perante o pa­raíso. Estava provada a maçã do conhecimento artístico. Uma taça de cicuta, cheia de cores, lhe foi oferecida para bebê-la até a última cor. E Deus lhe franqueou a palheta do arco-íris para que ele pintasse a vida. Apenas lhe ne­gou, como a todo artista, a cor da felicidade.

Hoje vemo-lo em cores. Um Roberto que aos poucos se vai transferindo para os seus quadros. Um pintor que conhece o verdadeiro sentido das cores, a sua realidade psicológica, a sua mensagem angustiada às regiões do espírito.

Em suas obras há duas faces. A primeira, onde os olhos leigos apenas admiram as formas, a perspectiva, a técnica e as tintas. A segunda, onde o esoterismo artísti­co apenas permite penetrar aqueles seres iniciados pelo sofrimento. É a luta danada do branco com o negro, onde a esperança é um quadrado de luz na senzala da vida. É a terra maior que o céu, onde a esperança nasce todo o dia como os capins teimosos. O apego telúrico a tudo quanto é barro e a tudo quanto dele brota em urzes e sofrimentos. A cor é uma voz. E esta voz somente é ou­vida aos ouvidos afinados pelo sofrimento.

Roberto ainda ascende. É um sol jovem, mas já aquece e alumia a distância. Ainda há oscilações no seu roteiro, mas que a contínua ascensão aos poucos corrigi­rá. O que produziu até agora tirou de sua própria argila. E nisto é que reside o seu grande mérito, a sua autentici­dade criadora.

Apresentamo-lo ao Recife. E ao Recife cabe a missão de apresentá-lo ao mundo.”

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