1985

Realizei as seguintes palestras em reuniões públicas do IPPP: 1º de fevereiro, O Problema do Eu na Parapsicologia; 5 de maio, Parapsicologia e Religião; 12 de julho, Aspectos Psicológicos da Ideoplastia; 30 de agosto, Fenômenos de Metafanismo; 27 de setembro, Há o Espiritismo Científico?; 4 de outubro, Demarcação da Parapsicologia e do Espiritismo; 25 de novembro, Visões de Moribundos no Leito de Morte; 30 de dezembro, Considerações sobre o Poltergeist da Cruz Cabugá.

Em 12 de julho, participei de Mesa Redonda, promovida pelo I.P.P.P. na Universidade Católica de Pernambuco sob o tema “Aspectos Práticos dos Fenômenos Paranormais”.

De 30 e 31 de maio, eu e Geraldo Fonseca Lima pronunciamos palestras no auditório da Faculdade de Filosofia do Recife – FAFIRE -, respectivamente sobre Parapsicologia e Hipnose.

Conferência “A Demarcação da Parapsicologia” no I Encontro Nacional de Pesquisadores do Campo da Parapsicologia, Psicobiofísica e Psicotrônica, e no IV Congresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrônica, realizado em Brasília, de 5 a 9 de junho. Publiquei-a no meu livro A MENTE MÁGICA – 2015.

Neste evento, propus a demarcação da Parapsicologia, distinguindo-a de outras ciências psíquicas – a Psicologia e a Psiquiatria, sustentando que, enquanto a Psicologia tem por objeto o estudo dos fenômenos comuns da mente humana e a Psiquiatria os fenômenos psicopatológicos, a Parapsicologia investiga os fenômenos incomuns do psiquismo, advertindo que ao parapsicólogo é defeso o exercício da psicoterapia. Defini a habitualidade da experiência parapsicológica como o critério para determinar se uma pessoa é paranormalmente dotada. Sustentei que estudo da sobrevivência não é objeto da Parapsicologia, embora possa constituir-se uma especulação parapsicológica. Sustentei a existência de uma função psi que estabelece uma forma especial de relação do homem com a realidade. E, finalmente, propus dois postulados fundamentais para a Parapsicologia:

  1. a) a presença do médium é condição necessária, mas não suficiente, para a manifestação do fenômeno paranormal;
  2. b) quanto mais poderoso o médium, maior o índice de probabilidade de ocorrência do fenômeno paranormal.

 

Conferencista oficial, pronunciei uma palestra sobre Parapsicologia e Espiritismo, no I Ciclo de Palestras, sob o título Espiritismo e Universidade em Debate, promovido pela Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Alagoas e pela Federação Espírita do Estado de Alagoas, realizado no período de 1 a 27 de junho, naquela Universidade, em Maceió.

Ao expor a explicação da Parapsicologia para os fenômenos de psicopictografia, senti a frieza e a decepção do auditório, constituído na sua quase totalidade de espíritas. E o clima ficou mais tenso, quando, logo após a palestra, uma médium psicopictógrafa, que começava a se destacar no Espiritismo de Alagoas, manifestou sua dúvida a respeito da intervenção dos Espíritos em sua atividade mediúnica.

Apesar disso, o grupo espírita que me hospedou soube compreender a minha posição de parapsicólogo.

 

Conferência na Academia Pernambucana de Medicina sob o título “Fenomenologia da Morte e Aspecto Científico da Sobrevivência”, no dia 27 de junho.

 

Ministrei um Curso de Parapsicologia na UNICAP, de 05 a 21 de julho, por ocasião do 8º Festival de Inverno.

 

Conferência sobre Parapsicologia no III Simpósio Pernambucano de Psicologia e Saúde Mental, realizado no Colégio Salesiano, no Recife, de 19 a 21 de outubro.

 

Participei de uma mesa redonda, sob o tema “Aspectos Práticos dos Fenômenos Paranormais, que o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas promoveu na Universidade Católica e Pernambuco.

 

No III Simpósio Pernambucano de Parapsicologia e I Congresso Nordestino de Parapsicologia, no Auditório da Universidade Católica de Pernambuco, de 11 a 13 de outubro de 1985, fiz uma palestra intitulada “A Parapsicologia no Mundo e no Brasil”.

Neste mesmo evento, a Mesa redonda, intitulada “Um Modelo para a Parapsicologia,” teve a minha participação e a de Ivo Cyro Caruso.

Logo após o Simpósio, em reunião no IPPP, eu e Ivo Cyro Caruso confirmamos o nosso apoio ao recém-criado Instituto Alagoano de Pesquisas Psicobiofísicas – IAPP, representado por Ricardo José dos Santos, que também participara do evento. Infelizmente, o IAPP só durou alguns poucos meses.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO
Recife, domingo, 13 outubro de 1985
Parapsicólogo lança hoje nova proposta

Quem comparecer, hoje, ao I Congresso Nordestino de Parapsicologia, no auditório da Católica, verá uma sensitiva tentando entrar em contato mental com pessoas escolhidas por ela entre o público ao conclave, que se encerra hoje à noite, depois de reuniões e debates pela manhã e à tarde, com lançamento de nova pro­posta.

Uma sensitiva tentará entrar em contato mental com pessoas escolhidas por ela entre o público que com­parecer, hoje, ao I Congresso Nordestino de Parapsicolo­gia no auditório da Univer­sidade Católica. Iniciado na sexta-feira, o evento se encerra hoje à noite, depois de reuniões e debates pela ma­nhã e à tarde, com o lança­mento de uma nova pro­posta para a parapsicologia, elaborada pelo professor Valter Rosa Borges, presi­dente do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, promotor do en­contro dos especialistas em paranormalidade da Região.

O desempenho da sensitiva – Mónica Alecrim, que vem se submetendo a experiência no IPPP há algum tempo e ainda não teve o seu nível de paranormalidade aquilatado – não será acom­panhado por instrumentos, nem obedecerá a qualquer metodologia, devendo os re­sultados ser anotados.

INSTRUMENTOS

 

Além do trabalho da sensitiva, o Congresso tam­bém estará oferecendo hoje, pela manhã, ao público que for ao auditório da Universi­dade Católica para acompa­nhar palestras e debates, al­guns instrumentos que essa ciência desenvolveu para testar as forças parafísicas. São: uma máquina Kirlian – que os especialistas dizem ser capaz de fotografar energia biopsíquica ou a aura energética que cada ser humano emite e é imper­ceptível à visão comum um dado eletrônico para testes de precognição e psicocinese e demonstrações com o baralho Zener – um baralho, especial desenvolvido pelos pioneiros da parapsicologia e destinado a verificar o grau de acerto dos que se dizem sensitivos.

O professor Rosa Borges diz que também serão reali­zadas demonstrações com um dispositivo por ele mesmo concebido, o auroscópio.

 

CURAS

 

As palestras de hoje, pela manhã e à tarde, vão abordar dois temas impor­tantes no campo do paranormal. Pela manhã, o profes­sor Valter Rosa Borges vai falar sobre a Parapsicologia no Brasil e no Mundo que é, segundo ele explica, uma “visão cronológica sobre cada acontecimento, a partir de uma seleta de ocorrências insólitas desde Swedenborg à fundação da Sociedade Científica de Londres, em 1882.”

A outra palestra será do presidente da Associação Médica Espírita de São; Paulo, Antônio Ferreira, que abordará as curas paranormais. Também à tarde, fa­lará uma médica espírita da mesma associação, Maria Julia Peres, que focalizará as terapias regressivas.

 

 

No I Simpósio Brasileiro de Parapsicologia, Medicina e Espiritismo, promovido pela Associação Médico-Espírita de São Paulo e realizado em São Paulo, em 26 de outubro, fiz a apresentação de duas teses: a) O Universo dos Fenômenos Paranormais e Mediúnicos; b) Demarcação das Áreas Paranormal e Mediúnica: seus Aspectos nas Religiões e na Medicina. Estas teses estão publicadas no meu livro A MENTE MÁGICA -2015.

Logo na minha chegada, fui notificado por Maria Júlia Pietro Peres que as teses não tinham sido bem recebidas pela cúpula espírita do Simpósio. Portanto, eu deveria preparar-me para enfrentar uma forte oposição e sustentar uma acirrada polêmica. Qual não foi minha surpresa, quando, ao término da leitura das teses, recebi o inesperado apoio dos espíritas presentes. Entre as mais representativas figuras do Espiritismo brasileiro participavam do Simpósio o Dr. Hernani Guimarães Andrade e o escritor Hermínio Miranda. Creio ter sido uma atitude de cortesia dos espíritas, pois nunca mais fui convidado a participar dos Simpósios posteriores.

O dr. Alexandre Sech refu­tou diversas das minhas considerações, principalmente as críticas feitas aos livros de Allan Kardec.

O dr. Ary Lex concordou com a minha posição no tocante a imortalidade da alma, de que não é passível de investigação científica, lamen­tando que o Espiritismo no Brasil tenha-se tornado mais uma religião para as massas, como tantas outras, em detri­mento às investigações cientí­ficas, acrescentando que ele, pessoalmente, não aceita mais do que 80% dos livros de André Luiz.

O jornal O SEMEADOR de novembro de 1985 publicou uma reportagem sob o título A FÍSICA ADMITE A EXISTÊNCIA DE DEUS, divulgando o 1º Simpósio Brasileiro de Parapsicologia, Medicina e Espiritismo, descreveu a minha participação no evento:

 

Primeiro Tema

 

Sob a coordenação do pre­sidente do dr. Antônio Ferrei­ra Filho, o tema “PARAPSI­COLOGIA e ESPIRITIS­MO” contou com a participa­ção do dr. Walter da Rosa Borges, presidente do Institu­to Pernambucano de Pesqui­sas Psicobiofísicas, membro do Conselho Superior da Federação Brasileira de Parapsicologia, presidente do Conselho Regional de Parap­sicologia da 7ª Região, presi­dente da Academia Pernam­bucana de Ciências, prof. da Universidade Católica de Per­nambuco e Promotor de Justi­ça, que expôs sobre “O Uni­verso dos Fenômenos Paranormais e Mediúnicos” e “De­marcação das Áreas Paranormal e Mediúnica: Seus Aspec­tos nas Religiões e na Medici­na.”

Discorreu sobre o objeto da Parapsicologia, como epistemológico e sua divisão, inves­tigações psíquicas, as funções Psi-gama e Psi-kapa, demarcação das áreas da paranormalidade e mediúnica, con­trole dos fenômenos paranormais, entre outros. Fez uma vasta demonstração do estudo comparado, reportando-se a Holanda, França, União Soviética e Estados Unidos. Ainda expôs sobre regressões, terapias de vidas passadas, xenoglossia em crianças, que sugerem a reencarnação.

 

Médium Bom a Bom Médium

 

A parapsicologia, disse o palestrista, “lida tão só e exclusivamente com o homem enquanto ser biológico, históri­co e temporal e não como homem na sua dimensão trans­cendental, na condição de espere, seja no seu nível ontológico próprio, seja nas suas rela­ções com o mundo material. No espaço epistemológico da parapsicologia a hipótese do espírito como agente psíquico é absolutamente desnecessária. A Parapsicologia não nega nem afirma a existência extrafísica do homem e, por conse­guinte, as questões ligadas a sua possível sobrevivência “post-mortem” e não as cogita porque transcendem os limites do seu domínio epistemológi­co.”

A sobrevivência, continuou Dr. Rosa Borges, poderá cons­tituir-se matéria de especula­ção parapsicológica, se um dia o Espiritismo adquirir o “status” de ciência, estabele­cendo-se, assim, uma franja de relações interdisciplinares entre a Doutrina Espírita, porque a parapsicologia não faz apenas fronteiras com a religião, notoriamente com a física e outras ciências.

Referindo-se à teoria parapsicológica, afirmou ser ainda do tipo “caixa-preta”, mediante a qual só é possível investigar as entradas e as saí­das do sistema, ou seja, “não entendo de eletricidade, mas sei acender e apagar a luz”. Importa que o sensitivo (mé­dium) saiba ligar e desligar a sua função.

Dentro desta conotação, para a Parapsicologia o importante é o médium bom, que apresenta fenômenos mediúnicos que propiciam o campo da investigação cientí­fica e não o bom médium evangelizado do Espiritismo kardecista.

 

Debates

 

O dr. Alexandre Sech refu­tou diversas colocações do dr. Rosa Borges, principalmente as críticas feitas aos livros de Allan Kardec.

O dr. Ary Lex ficou com a posição do dr. Rosa Borges no tocante a imortalidade da alma, de que não é passível de investigação científica, lamen­tando que o Espiritismo no Brasil tenha-se tornado mais uma religião para as massas, como tantas outras, em detri­mento às investigações cientí­ficas, acrescentando que ele, pessoalmente, não aceita mais do que 80% dos livros de André Luiz.

 

Em dezembro deste ano a Folha Espirita, destacando o MARCANTE SUCESSO DO 1° SIMPÓSIO DE PARAPSICOLOGIA, MEDICINA E ESPIRITISMO, noticiou a minha participação no simpósio.

 

Os estudos do Prof. Dr. Valter da Rosa Borges, promotor de Justiça, pernambucano, professor universitá­rio e presidente da Academia Per­nambucana de Ciências, foram apre­sentados nas palestras: «O Universo dos Fenômenos Paranormais e Me­diúnicos» e a «Demarcação das Áreas Paranormal e Mediúnica: Seus Aspectos nas Religiões e na Medici­na», mostram o estreito e intrincado relacionamento entre os fenômenos paranormais conceituados na moderna Parapsicologia, os mediúnicos e os metapsiquicos que já foram estudados, entre outros, por Allan Kardec, Charles Richet, Camille Flammarion, William Crookes, Ernesto Bozzano, Alexandre Aksakof, Oliver Lodge, Gabriel Delanne, Albert de Rochas, Johann Friedrich Zollner, no ‘século passado e no começo deste. O Prof. Rosa Borges considera «mé­dium aquele que habitualmente apre­senta fenômenos paranormais», e assevera: «No entanto, há pessoas que são predispostas a passar por experiências paranormais, e outras que, esporadicamente, manifestam tais fenômenos».

 

Debates

O dr. Alexandre Sech refu­tou diversas colocações do dr. Rosa Borges, principalmente as críticas feitas aos livros de Allan Kardec.

O dr. Ary Lex ficou com a posição do dr. Rosa Borges no tocante a imortalidade da alma, de que não é passível de investigação científica, lamen­tando que o Espiritismo no Brasil tenha-se tornado mais uma religião para as massas, como tantas outras, em detri­mento às investigações cientí­ficas, acrescentando que ele, pessoalmente, não aceita mais do que 80% dos livros de André Luiz.

 

DIÁRIO DE PERNAMBUCO

3 de novembro de 1985

PARAPSICÓLOGO EXPLICA A LÓGICA DO IMPOSSÍVEL

 

A entrevista foi coorde­nada por Manoel Barbosa.

 

A visão de uma mão que se materializa numa sala em penumbra, esvoaça e, diante de uma ordem verbal, aproxima-se e deixa-se exa­minar meticulosamente, se contida no relato de um pes­quisador crédulo pode pare­cer facilmente, se não pura invenção, fruto da ilusão de alguém desejoso de crer no inusitado. Mas quando o re­lato de um fenómeno como esse é de um pesquisador re­conhecidamente cético, im­placável, cáustico até, como o professor de Direito Civil e parapsicólogo Valter Rosa Borges, tem-se de admitir que o impossível é viável. Essa e outras experiências fazem parte de relatos feitos por Valter Rosa Borges, em depoimento prestado ao DIARIO DE PERNAM­BUCO sobre os seus 31 anos de pesquisas parapsicológicas em Pernambuco. Estu­dos que não têm avanço maior porque, segundo alega, os centros espíritas pernambucanos se recusam a colaborar com a verifica­ção científica, incluindo a própria equipe do médico Edson Queiroz, que não tem permitido a presença do pa­rapsicólogo. Quanto a Edson Queiroz, Valter Rosa Borges admite a possibilidade de ele ser um sensitivo de gran­des poderes, mas faz restri­ções à versão de que ele atue com o espírito de Dr. Fritz, o médico alemão que teria morrido na Segunda Guerra Mundial.

DP – Como fazer a dife­rença, de maneira clara, entre a Parapsicologia séria, cientifica, da char­latanesca?

VRB – No Brasil, nós ainda estamos lutando para, justamente, distinguir a Pa­rapsicologia de outras ciên­cias, de outras paraciências, até mesmo de religiões, por­que como a Parapsicologia lida com fenômenos extraor­dinários da mente humana, geralmente as pessoas pro­curam compreendê-la como se fosse uma panaceia, ou seja: tudo o que é fantástico, tudo o que não tem explica­ção científica, fenômenos são atribuídos ao seu campo. O que acontece? A Parapsi­cologia é confundida com es­piritismo. Inclusive, é até usada, seja como instru­mento contra o espiritismo ou a seu favor, quando na verdade seu objeto é o es­tudo, a pesquisa sistemati­zada do fenômeno paranormal. O que seria o paranormal? Seria aquele fenômeno extraordinário da mente hu­mana, como a telepatia, a clarividência e a precognição, que evidenciam a capa­cidade da mente de ter um conhecimento que não pode ser atribuído aos sentidos nem à sua capacidade analí­tica. Como também estuda a ação da mente humana so­bre a matéria, utilizando-se de recursos não físicos. No caso, por exemplo, de fenô­menos de psicocinesia, que consistem na movimentação de objetos pela simples von­tade de uma pessoa dotada dessa faculdade. Então, a Parapsicologia não estuda todos os fenômenos fantásti­cos. Por exemplo: fenômenos ufológicos, discos voadores, aparição de ETs, ou fenôme­nos mediúnicos, que perten­cem ao campo do espiri­tismo. A Parapsicologia lida com o homem vivo, com o homem biológico, com o ho­mem histórico, não com o homem transbiológico-transistórico. Quer dizer: a sobrevivência não é objeto da Parapsicologia. Pode constituir-se num estudo interdisciplinar. O parapsi­cólogo pode preocupar-se com o tema da sobrevivência numa área de interdisciplinaridade. No entanto, o pró­prio Joseph Rhine reconhe­ceu que a especulação sobre a sobrevivência é matéria de especulação científica. Mas não é objeto da Parapsicolo­gia: seria objeto da especula­ção parapsicológica. Daí porque nós temos de reco­nhecer que esse ponto atrai muitos charlatães, muitas pessoas dotadas de pensa­mento mágico e que ou utili­zam esses fenômenos como meio de ganhar dinheiro ou simplesmente confundem as coisas.

DP – Até que ponto a Parapsicologia se choca com o pensamento reli­gioso que acredita na so­brevivência?

VRB – A Parapsicologia não a rejeita. Apenas não é sua área de competência. Não seria sua jurisdição Mas os fenômenos nos interessam porque são produzi­dos pelo inconsciente da pes­soa. Fenômenos que aconte­cem nos terreiros de um­banda, nos candomblés, nos centros espíritas, claro que não são interpretados pelos estudiosos como causados pelos seres extracorpóreos, seres espirituais, mas sim pela atividade do inconsciente das pessoas. Assim, a Parapsicologia não afirma nem nega a sobrevivência das pessoas e vê nesses fenô­menos que acontecem em casos religiosos manifesta­ções do inconsciente.

DP – O senhor se con­sidera um parapsicólogo?

VRB – Há 31 anos que me dedico às pesquisas parapsicológicas. Agora, a Pa­rapsicologia ainda não é uma profissão em nenhuma parte do mundo. Tanto que a Federação Brasileira de Parapsicologia, da qual eu sou membro do Conselho Superior, tem tentado sua profissionalização. É uma luta muito árdua. Porque a profissionalização impedirá c charlatanismo. Porque muita gente se diz parapsi­cólogo quando, na verdade, nada entende. Porque o ele­mento tem de ter uma for­mação humanista, um nível universitário. E, natural­mente, não se deve confundi-lo com o paranormal. Este é dotado do cha­mado talento psi. E o parap­sicólogo é apenas aquela pessoa que estuda esses fe­nômenos. Mas, como ciên­cia, a Parapsicologia está re­conhecida. Há mais de 200 cadeiras desse estudo nos Estados Unidos, na Europa. Aqui no Brasil há a Facul­dade de Ciências Biopsíquicas do Paraná, que possui um curso com período de cinco anos. A nossa luta, aqui no Brasil, não é mais pelo reconhecimento mas pela profissionalização.

 

Parapsicologia não tem religião

 

DP – Como parapsicólogo e pessoa humana, qual sua crença reli­giosa?

VRB – Sou um livre pensador. Claro que tenho uma inclinação maior pela doutrina espírita. Porque eu acho altamente signifi­cativa certas posturas filo­sóficas da doutrina. Com isso não estou me compro­metendo em defender este ou aquele postulado. Como livre pensador, tenho mi­nha mente disponível. Por­que, no momento de me vincular a uma posição re­ligiosa eu me veria na obri­gação de defender seus pos­tulados. E na condição de livre pensador, hoje eu aceito a sobrevivência, a comunicabilidade com os mortos e também a reencarnação, acho um modelo explicativo bastante fértil. Mas com isso não estou di­zendo que, definitiva­mente, passo a integrá-las à minha concepção da realidade.

DP – Nos seus 31 anos como pesquisador dos fenômenos paranormais, tem tido oportuni­dade, certamente, de ti­rar muitas conclusões pessoais. Teria podido observar, durante esse período, que de algum modo há uma força agindo por trás ou para­lelamente à existência humana, conforme al­guns pesquisadores suge­rem?

VRB – Aí depende do enfoque do problema. Um famoso parapsicólogo disse que a pesquisa da sobrevi­vência vem sendo prejudi­cada porque até o mo­mento não conhecemos o fenómeno da mente hu­mana em sua totalidade. Seria um tanto perigoso fa­zer afirmações porque desconhecemos o potencial da mente humana. Já Rhine dizia que os fenómenos paranormais sugerem forte­mente a sobrevivência. Eu confesso que guardo sim­patias enormes pela sobre­vivência. E entendo que alguns raros fenômenos, como da memória extracerebral, indicam fortemente o fator extracorpóreo. Então, nesse caso, eu res­ponderia afirmativa­mente: na minha opinião estritamente pessoal cer­tos fenômenos paranormais sugerem for­temente a sobrevivência. Quando eu digo sobrevi­vência, não digo imortali­dade. É possível que a consciência continue após a morte da estrutura bioló­gica que a agasalhava. Agora, se essa consciência permanece indefinida­mente nunca será matéria para especulação científica mas sim pertencente à filo­sofia religiosa. Agora, pode-se, naturalmente – e isso eu apresentei no I Simpósio Brasileiro de Parapsicologia e Espi­ritismo – ter um modelo para pesquisar a sobrevi­vência dentro de referen­ciais científicos. Naquela oportunidade eu disse aos meus amigos espíritas de São Paulo que o espi­ritismo não é uma ciência, por não ter sido reconhe­cido pela comunidade cientifica e por não utilizar metodologia científica.

DP – A resposta ex­plica alguns pontos. Mas o problema é que alguns físicos, sobretudo os es­pecialistas em estruturas subatômicas, além de muitos biólogos, dizem perceber uma espécie de inteligência orientadora por trás das formas ulti­mas da matéria. Eles sentiram isso em deter­minado momento. Por exemplo: o que orienta o código genético? É como se houvesse uma força, que eles não sabem o que é. O senhor, no decorrer das experiências, já sen­tiu algo assim?

VRB – Eu sinto isso também. Há realmente uma inteligência subja­cente por trás de tudo isso. Aliás, determinado físico diz que o Universo não é mais aquela máquina ima­ginada por Descartes, mas é pensamento. Então, ele sentia que o Universo tem inteligibilidade, intencio­nalidade. Os físicos quân­ticos reduzem a matéria a nuvens de eventos, ma­téria é intensificação de campo, como já dizia Einstein. Isso até evidencia que há um consórcio e a física quântica e o pensamento oriental. Existe o “tao”, que é aquele vazio, mas é um vazio que representa um potencial onde existe tudo e todas as formas. No caso o homem seria uma individualização da inteli­gência. Nós já estamos saindo do campo da Física, porque os físicos hoje já são metafísicos. Hoje, nós estabelecemos re­lações matemáticas. Ma­téria, energia, substância, tudo parece manifestação de uma mesma coisa.

 

E quando uma mão surge do nada

 

DP – Durante os seus 31 anos de pesquisas, qual o fenômeno que mais o im­pressionou?

VRB – Inegavelmente, foi um fenômeno de ideoplastia, que na linguagem espírita chama-se materiali­zação. Agora, veja você: esse fenômeno ainda não está in­serido oficialmente dentro do quadro oficial da Parapsi­cologia. Até o momento, a Parapsicologia só tem com­provados em laboratório quatro fenômenos: telepatia, clarividência, precognição, que são fenômenos do conhecimento chamados psi-gama; e o fenômeno psi- kapa, que é aquele que a mente age sobre objetos sem utilização de qualquer meio físico. Mas, com isso, não quer dizer que a Parapsico­logia jogou na lata de lixo to­dos aqueles fenômenos que são pesquisados por homens notáveis da metapsíquica. Então, eu assisti, com um médium – que, aliás, perdeu essa aptidão da noite para o dia -, um fenômeno extraor­dinário de ideoplastia, sob controle rigoroso. E consis­tiu justamente no aparecimento de uma mão, comple­tamente materializada. Eu solicitei, então, a essa mão que viesse junto de mim e a examinei detidamente, sen­tindo as articulações ósseas. Essa mão só ia até o pulso.

DP – Quando o senhor chamou, a mão veio voando?

VRB – Ela veio no es­paço. Inclusive, uma das coisas que essa mão fez foi descerrar a cabine e apontar para o médium, que se en­contrava adormecido. Com a cabine descerrada, com a luz acesa – uma luz vermelha -, eu solicitei que essa mão viesse até junto de mim para eu examinar. E a mão veio, se jogou no espaço e chegou até junto de mim, parou e eu a examinei.

DP – Chamou-a como? Com gestos ou palavras?

VRB – Eu disse: “Você poderia vir até aqui?” En­tão, veja que houve uma per­gunta e uma resposta. A mão se deslocou até junto de mim, eu a examinei e senti, inclusive, todas as articula­ções ósseas.

DP – Parecia com a carne humana, comum?

VRB – Ela estava como que dentro de uma luva. Não satisfeito, solicitei à mão se ela poderia levantar a mesa. Era uma mesa de pe­roba, torneada. Mesa an­tiga, bem pesada. E a mão não se fez de rogada: desvencilhou-se das minhas mãos e ergueu a mesa – e o que é importante – sem des­locar o centro de gravidade, como se uma força anti-gravítica estivesse atuando. Então a mesa ergueu-se cerca de 50 centímetros do solo, depois a mão soltou a mesa e houve um estrondo. E esse es­trondo não despertou o sen­sitivo, que continuou dor­mindo tranquilamente. De­pois, a mão retornou e se desfez. Esse foi, realmente, o fenômeno mais impressio­nante que presenciei.

DP – E quando foi isso?

VRB – Há cerca de 20 anos.

DP – Foi no Recife?

VRB – Foi. No bairro do Ar­ruda. Dessas pessoas que participaram da reunião, al­gumas estão mortas.

DP – Todas elas vi­ram?

VRB – Todas elas vi­ram. Inclusive, eu até solici­tei que algumas pessoas também examinassem a mão, mas elas demonstram estar satisfeitas com meu exame – naturalmente tiveram um certo receio.

DP – No momento como o senhor era ainda um pesquisador com apenas 11 anos de experiência em pesquisas, teve algum receio? Qual a sensação que teve?

VRB – Quando iniciamos a experiência com médium – que era uma mulher -, os fenômenos iniciais causaram assim um certo temor. Fenômenos de pancadas, deslocamentos de objetos, objetos que surgiam repentinamente na sala. De repente, a sala ficava atapetada de cravos. Eles caiam do teto. E os fenómenos que mais causavam impacto eram as pancadas. Com continuação veio, naturalmente, o costume porque, vezes, nós nos acostumam até com o insólito. Quando a mão apareceu, eu já estava psicologicamente preparado. Aquele temor, aquele receio, já tinham desaparecido, substituído pela emoção do pesquisador de poder examinar um fenômeno que até então, só tinha conhecimento através da literatura especializada. Eu senti não medo, mas uma emoção muito forte.

DP – Por que quem fez a pesquisa não se lembrou de fotografar, para documentá-la?

VRB – Porque naquela oportunidade havia um receio de dar-se publicidade ao fenômeno, por não haver ainda clima. E tudo isso ocorreu num ambiente familiar. A médium era pessoa da família. E ela solicitou que, por hipótese alguma, desse publicidade àquilo!

 

Fenômeno é quando não há fraude

 

DP – Alguns estudio­sos fazem críticas aos mé­todos usados pela Parapsi­cologia, sob o argumento de que ela tenta apurar o paranormal de maneira quantitativa. Por isso, se­gundo esses críticos, as pesquisas não avançam. O que diz?

VRB – Você pode em Parapsicologia, usar dois procedimentos: o método quantitativo – estatístico – matemático, que é da escola norte-americana, que consi­dero muito seguro, sob certo ponto de vista – o da expressão estatística; e o método qualitativo, que é utilizado pela Parapsicolo­gia soviética e foi usado tam­bém pelos metapsiquistas, ou seja, o fenômeno vale pelo que ele é, desde que estejam afastadas as possibilidades de fraude, ilusão e alucina­ção. Eu confesso que sou mui­to mais simpático ao método qualitativo. Porque o mé­todo quantitativo é muito castrativo, embora mais se­guro. Essa experiência que eu estou fazendo com um sensitivo, é através do mé­todo qualitativo. Eu peço que ele sinta as pessoas. Ele não vai fazer jogo de baralho Zener para adivinhar cartas. Ele, simplesmente, na frente de uma pessoa, que pode ser o próprio jornalista, procura entrar em sintonia e tenta senti-la. Se ele estiver num dia muito bom, vai dizer que a simples percep­ção não trará informações suficientes.

DP – E que coisas ela pode dizer da pessoa com quem entra em sintonia?

VRB – Ela diria sobre sua personalidade, que são dados puramente observa­cionais. Mas, à medida que ela vai se envolvendo com a pessoa, vai trazendo outras observações. Por exemplo: o estado de saúde, uma enfermidade que a pes­soa já teve fatos que, às ve­zes, não dizem respeito à pessoa, mas a alguém da família dela. Então, vêm in­formações que podem ser in­terpretadas a nível psicoló­gico. Ou seja: ela, natural­mente, tem uma habilidade muito grande de perceber, pela sua postura, pela sua maneira de olhar, de falar e, com esses dados, fazer uma “Gestalt” da sua personali­dade. Mas, â medida que ela vai entrando em você, pene­tra nas camadas mais profun­das. Então, o dado não é mais psicológico. Aí é, real­mente, um fenômeno telepá­tico.

Valter: Centros dificultam pesquisas parapsicológicas

Presença carismática pode curar

 

DP – Dentro dessa ex­posição, parece que não se pode descartar que certos curandeiros têm, real­mente, os poderes alegados de influir sobre as pessoas, induzindo curas? E isso, inclusive, do ponto de vista científico?

VRB – Pode. O efeito placebo pode curar. A pre­sença carismática faz des­pertar na pessoa uma con­fiança tão grande que ela se cura. Há curas espontâneas. O curandeiro/feiticeiro teria um efeito catalisador. Sua presença desenvolveria o po­tencial da própria pessoa. A transferência de energia é que é ainda discutível.

DP – Quanto mais pri­mitivo esse ser não teria um poder maior?

VRB – Claro, porque tem menos bloqueio, menos senso crítico. O superego não é tão ativo. E essas pessoas, por serem mais simples, in­teragem melhor.

DP – Ainda dentro desse mesmo nível de enfo­que, o médico Edson Quei­roz – a quem o senhor pa­rece fazer algumas reser­vas – não poderia ser um sensitivo altamente do­tado?

VRB – Poderá ser. E eu quero esclarecer mais uma vez a posição do Instituto, que tem sido tão mal com­preendida pelos meus ami­gos espíritas: a nossa posição é essencialmente científica, e não nos foi dada oportuni­dade de investigar o médico Edson Queiroz. Nossa pro­posta de investigação foi simplesmente castrada. Mas eu não posso, então – e seria leviano da minha parte se o fizesse – afirmar ou negar que o Edson Queiroz é um paranormal. Há uma polê­mica muito grande em torno dele. E nesse tumulto de emoções, há espíritas que são favoráveis, outros que são contra, a presença de pa­rapsicólogos – ainda não há nenhum pronunciamento oficial. Nada nos permite ainda uma avaliação. Agora, é possível que o Edson Quei­roz seja portador de uma paranormalidade muito forte. Entre ele ser um paranormal e servindo de instrumento do que se diz Adolfo Fritz, a distância é grande. Eu fica­ria só na parte da paranormalidade – isto é, se tivesse tido oportunidade de pes­quisar Edson Queiroz. Quanto à questão do dr. Fritz, aí já pertence a outro departamento que não o parapsicologia. Porque dr. Fritz nunca deu provas concretas de sua individualidade: nasci em tal lugar, minha família foi tal. Se desse provas concertas de sua identidade, haveria dados precisos para uma investigação. A alegação é que cria problemas. Ora, um homem que morreu na segunda guerra mundial criaria problemas para a família!? Com os dados, poderia haver pesquisa adequada para saber se, realmente, dr. Fritz existiu. Mas nada disso ele fornece. Por causa disso, temos de admitir que, se Edson é um paranormal tudo o que ele faz é, na verdade, pela própria aptidão que possui. Espero que haja uma abertura maior para a pesquisa parapsicológica e os centros espíritas não se fechem tanto.

 

 

O mais famoso dos “poltergeist” que investiguei aconteceu em dezembro, no apartamento nº 301, do Edifício Paris, na Avenida Cruz Cabugá, bairro de Santo Amaro, Recife. Durante alguns dias, garrafas vazias voavam pelo apartamento, caíam na área externa o prédio, apavorando os seus moradores. Em pânico, a família solicitou, sucessivamente, o auxílio de um padre, de um pastor, de um médium espírita e de uma mãe de santo, os quais, apesar de seus esforços, não conseguiram resolver o problema. O apartamento virou um verdadeiro pandemônio, inclusive com a presença constante da imprensa, tentando filmar o fenômeno. As emissoras de rádios e de televisão exploravam o assunto, como sempre de maneira sensacionalista, aumentando, ainda mais, a aflição da família, atormentada ainda pelas explicações sobre naturalistas dos religiosos.

Convidado pela Dra. Léa Correia, então presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco, aceitei tratar do caso, atendendo a solicitação que lhe foi feita pela família  e, no dia seguinte, fui em companhia de Selma Rosa Borges, ao apartamento “mal-assombrado” e, depois de examinarmos minuciosamente o local, entrevistamos as Sras. Lúcia Jacelli e sua irmã, Antônia. Descobrimos, então, que o agente do fenômeno era uma garota de 12 anos e que trabalhava como empregada doméstica no referido apartamento. Enquanto falávamos com a garota, uma garrafa vazia voou da cozinha do apartamento até a sala, espatifando-se de encontro à parede.

A família seguiu as nossas orientações e, uma semana depois, o “poltergeist” cessou definitivamente. Entusiasmadas pelo final feliz, Lúcia Jacelli e sua irmã Antônia, pouco depois do evento, fizeram um Curso Básico de Parapsicologia no IPPP.

 

A imprensa deu ampla cobertura ao caso.

 

Jornal do Commercio

29 de dezembro de 1985

 

MISTÉRIO EM EDIFÍCIO ATRAI ATÉ EXORCISTA

Os moradores do Edifício Paris, na av. Cruz Cabugá, bairro de Santo Amaro, viveram ontem, um dia de tensão e ex­pectativa, quando deze­nas de vidros de remé­dio começaram a estou­rar dentro do apt° 301 e ao redor do prédio. As pessoas apenas viram e constataram o fenô­meno, mas não souberam explicá-lo, nem tampou­co conhecem a proce­dência dos vidros.
Pensando que fosse alguma pessoa Jogando frascos e garrafas de ci­ma do edifício de 11 andares, os moradores cha­maram a Polícia que ter minou não encontrando ninguém fazendo desor­dens. Os policiais ficaram surpresos com o fa­to, pois quando estavam dentro do apt° 301 onde o barulho era maior vários vidros se quebra­vam junto aos seus pés. Eles terminaram indo embora sem nada resol­ver.

A partir daí os mo­radores chamaram o pa­dre Guedes, da igreja da Piedade, que fez ora­ções e jogou água benta nos cômodos do apt° 301. Mesmo assim, os vidros continuavam apa­recendo e se quebrando dentro e fora do aparta­mento. Sem acreditar no que acontecia, o sa­cerdote disse depois que não tinha visto nada, embora os vidros esti­vessem caindo junto de­le e espatifando-se ao seu lado.

Com o movimento de moradores aumen­tando nos corredores do prédio, a dona do apartamento, conhecida apenas por Antônia, 73 anos, fechou a porta e não consentiu que mais ninguém entrasse. Ela, que ficou com outras seis pessoas da família trancadas, pediu para os porteiros e os adminis­tradores não deixarem que nenhum repórter fosse para o 3º andar, ficando várias equipes de reportagem no térreo do edifício.

A essa altura, a re­portagem da sucursal de “O Globo” no Recife es­tava no apartamento vi­zinho (303) e pôde ouvir o quebra-quebra de vidros dentro do apar­tamento e, de vez em quando, fora dele. De­pois de ficar quase três horas sem sair ninguém do 301, o morador Ma­noel Borges desceu es­condido e correndo pela escada.

Já no térreo, Manoel que vestia camisa bran­ca e calça azul, foi abordado pelos repórteres que notaram a sua saída do apartamento e o acompanharam pela escada. Ele não falou nada, estava chorando e acenou para quatro pes­soas que estavam na portaria. Mesmo assim, os vidros continuavam se quebrando.

A médica Léa Correia, presidente do Sindicato da classe em Pernambu­co e amiga dos morado­res do apto 301, levou um parapsicólogo para analisar e conversar com a família de dona Antônia. Ela fez tudo em si­gilo, mas mesmo sem querer dizer o nome do parapsicólogo, aceitou ser entrevistada.

Ela disse que levou um parapsicólogo porque só ele poderia explicar o fenômeno e os mora­dores do 301 estavam apavorados sem entender nada. Informou que há quase dois meses uma filha adotiva de dona Antônia morreu atro­pelada e tinha apenas três anos, tendo o fato deixado a família bas­tante traumatizada.

— Não acredito em nada de espiritismo. Sei que a força da men­te é muito grande e ca­pas: de fazer coisas inexplicáveis. O cérebro tem muita força, disse a médica, acrescentando que tudo estava tranquilo àquela altura.

Por fim, a espírita Maria de Nazaré Socorro chegou a portaria do edifício Paris com um Evangelho na mão, mas ao contactar com os moradores do aparta­mento, eles não aceitaram a aproximação da integrante do núcleo espírita Centelha de Jesus.

Maria Nazaré disse que esse fenômeno se trata de espiritismo e pode ser resolvido com facilidade, porque — se­gundo ela — os espíri­tos se “apossam’’ das pessoas que têm atra­ção por eles.

— Eu sozinha não re­solvo, mas se quiserem trago alguns irmãos pa­ra fazermos um traba­lho e resolvermos o pro­blema. Parapsicólogos ou padres não resolvem isso de jeito algum — acrescentou ela — que terminou indo embo­ra, informando que os vidros voltariam a se quebrar a qualquer mo­mento.

Até às 16h, ainda se ouviu o barulho de al­guns vidros se quebran­do dentro do apt9 301, sendo que um deles caiu na parte de trás do edi­fício e tinha o rótulo do remédio Eritrex.

 

Paraninfo da Turma de Direito da Universidade Católica de Pernambuco.

 

O jornalista e escritor, Nilo Pereira, escreveu um artigo jocoso intitulado Assombração e publicado no Jornal do Commercio, de 27 de dezembro de 1985, sobre o poltergeist do Edifício Paris.

 

Noticiam os jornais que há assombrações num certo edifício, à avenida Cruz Cabugá.
Vidros quebrados, garrafas pelo ar numa dança macabra, objetos jogados à grande dis­tância. Não faltou a bênção do apartamen­to, onde os fenômenos ocorrem.

Só havia uma solução: chamar um especialista para estudar o caso. O especia­lista só podia ser o Walter Rosa Borges cujo renome lhe é assegurado pelos livros publicados e pela experiência no ramo.

Logo o Walter classifica o fenômeno como Psicocinésia. Que quer dizer isso? A Psicocinésia Espontânea Recorrente __ tal como a chama o especialista _ é precisamen­te o que acontece no edifício Paris, centro de interesse científico de estudos ligados à matéria.

Antigamente, isso era mais simples. Cha­mava-se assombração. Fechava-se a casa mal-assombrada. E ninguém ousava enfrentar fantasmas. Mas tudo mudou. Falar em fantasmas é uma banalidade. É preciso que o fenômeno, à semelhança de certas doenças tenha um nome complicado.

_o_

 

Os fantasmas, desde Shakespeare com os seus castelos mal afamados, vinham de fora. Hoje – pasme o leitor – estão lá dentro e são pessoas residentes no lugar da assombração. Tal a conclusão a que chegou o Walter Rosa Borges, cuja palavra autorizada não pode ser contestada

Que é uma garrafa estilhaçada? Uma vidraça feita em pedaços? Uma janela que se abre numa ventania descompassada? Tu, leitor, não te espantes mais de nada. É psicocinético o espetáculo. Morou?

A partir de agora, caros amigos, quan­do ocorrer uma assombração na sua casa, pergunte:

–  Quem é o fantasma aqui? Apareça.

Pois que você está falando com ele ou com ela. É a pessoa que possui uma força extraordinária, chamada telergia, e que, sem poder conter a propulsão psicológica, desanda em coisas inverossímeis.
_o_

Está, portanto, tudo explicado. Mas, a mim, um ignorante de marca maior, restaria uma pergunta: esse “fantasma”, que está provocando tal balbúrdia, sempre morou nesse apartamento? Por que só agora, rebenta em fúria incontrolável?

Meus amigos e meus inimigos: o ano está terminando. Vamos varrer de nossas mentes todos os fantasmas.

Cada um de nós _ ou quase todos _ viveu já a sua visão ou abusão. Convém apurar quem tem essa força (telergia) capaz de acionar uma casa toda, deixando-a em polvorosa. Que horror, santo Deus!

 

Diário de Pernambuco

28 de dezembro de 1985

 

Parapsicólogo desvenda mistério em apartamento

 

É um fenômeno paranormal o que está ocorrendo no apartamento 301 do Edifício Paris, na Avenida Cruz Cabugá, onde vidros se espatifam e objetos são joga­dos de um lado para o outro sem intervenção de força hu­mana. A afirmação é do pa­rapsicólogo Válter Rosa Bor­ges. presidente do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas e que investi­gou o fenômeno pessoal­mente por quatro horas no apartamento fechado, a cha­mado da família.

“Trata-se do que cha­mamos de Psicocinesia Es­pontânea Recorrente, cuja sigla em inglês é PRPK e é, às vezes, classificado errada­mente como Poltergeist” – afirma Rosa Borges, que pre­senciou a quebra de vidros e o estilhaçamento de uma garrafa.

Depois de reunir toda a família num local do aparta­mento para ter certeza de que todos os membros esta­vam sob sua observação, o parapsicólogo identificou o “epicentro” do fenômeno. Isto: as pessoas o provocam involuntariamente irra­diando energia – ou telergia, segundo o termo técnico da parapsicologia. São duas jo­vens as causadoras dos even­tos. Mas o parapsicólogo mantém reservas quanto aos nomes, alegando que a família está muito traumati­zada.

 

A FORÇA

 

Segundo Válter Rosa Borges a telergia tanto pode desaparecer espontanea­mente – do mesmo modo como apareceu – como per­manecer por algum tempo, ou tornar-se permanente.

“No interesse da ciên­cia, seria bom que permane­cesse, pois trata-se de fenô­meno raríssimo. Mas, no in­teresse da família, é evi­dente que é conveniente o seu desaparecimento – diz Válter Rosa Borges.

Alguns interpretam a Psicocinesia Espontânea Re­corrente como Poltergeist. Mas. no entender do parap­sicólogo, é errado, porque “Poltergeist quer dizer fan­tasma batedor, o que não é o caso”.

Na União Soviética – observa – estão sendo reali­zadas experiências no sen­tido de fazer o indivíduo controlar a energia espontâ­nea para torná-la perma­nente.

Esse tipo de psicocinesia ocorre em geral em jo­vens adolescentes em início de fase de menstruação, desa­parecendo depois. A pre­sença do parapsicólogo é ne­cessária para identificar nes­sas ocasiões, qual o epicen­tro, ou seja, a fonte irradia­dora de energia capaz de movimentar objetos.

 

NA CABUGÁ

 

Foi exatamente esse o papel desempenhado por Válter Rosa Borges no caso do apartamento do Edifício Paris. Uma médica amiga da família, ao tomar conheci­mento, do fenômeno, comunicou-se com o parap­sicólogo e o convidou a presenciá-lo.

– Quando cheguei – conta Rosa Borges – me cer­quei de toda cautela para sa­ber se tudo não poderia estar sendo causado por uma brin­cadeira de mau gosto ou algo assim. Reuni toda a família num só cômodo, de modo a que todos os outros ficassem vazios e todos estivessem sob as minhas vistas. Permaneci no local de 14h30m até às 18h30m e, então, por duas vezes, vi vidros se quebra­rem. Numa delas, em local afastado, uma garrafa se es­patifou completamente, como se alguém a tivesse jogado no chão com toda força. Passei, então, a tentar identificar o epicentro. E quando afastei determina­das pessoas, o fenômeno dei­xou de ocorrer. Com o tempo, fui ganhando certeza de que eram elas as fontes.

Observa, no entanto, que “com isso não quero di­zer que resolvi o problema”.

– Ele pode continuar, pode desaparecer. Ninguém sabe. Resta esperar”.

 

OBS. Dias depois, a família me informou que o poltergeist terminou e a paz retornou aos moradores do apartamento.

 

 

 

O SEMEADOR.

NOVEMBRO. 1985

 

A FÍSICA ADMITE A EXISTÊNCIA DE DEUS

 

Ocorreu, no dia 26 de outubro de 1985, com dura­ção de 14 horas, o 1º Simpósio Brasileiro de Parapsicologia, Medicina e Espiritismo, pro­movido pela ASSOCIAÇÃO MÉDICO-ESPÍRITA DE SÃO PAULO, com o apoio do Instituto Brasileiro de Pes­quisas Psicobiofísicas.

De acordo com as informações prestadas pela Dra. Maria Júlia B. Moraes Prieto Peres, Secretária Geral da AMESP, uma das responsáveis pelo evento, estiveram presentes representantes de 12 Estados brasileiros, além de participantes do Interior paulista e do Exterior.

O Salão de Convenções da Secretaria de Estado dos Negócios do Interior, no auditório Alceu Amoroso Lima, com lotação para 300 lugares, diante das caravanas que chegaram sem a prévia inscrição, tornou-se excessivamente pequeno e mais de 200 cadeiras foram improvisadas, além dos companheiros que se sentaram nos corredores.

O horário foi rigorosamen­te obedecido sob a responsabilidade dos coordenadores dos três temas abordados durante o Simpósio: drs. Antônio Ferreira Filho, dr. Abrahão Roberg e dr. Roberto Brólio. A mesa redonda teve a coordenação do dr. Ney Prieto Peres. As solenidades tiveram início às 8 horas, presididas pelo presidente da AMESP, dr. Antônio Ferreira Filho, com a prece inicial pro­ferida pelo dr. prof. Hermínio A. Miranda.

 

Primeiro Tema

 

Sob a coordenação do pre­sidente do dr. Antônio Ferrei­ra Filho, o tema “PARAPSI­COLOGIA e ESPIRITIS­MO” contou com a participa­ção do dr. Walter da Rosa Borges, presidente do Institu­to Pernambucano de Pesqui­sas Psicobiofísicas, membro do Conselho Superior da Federação Brasileira de Parapsicologia, presidente do Conselho Regional de Parap­sicologia da 7ª Região, presi­dente da Academia Pernam­bucana de Ciências, prof. da Universidade Católica de Per­nambuco e Promotor de Justi­ça, que expôs sobre “O Uni­verso dos Fenômenos Paranormais e Mediúnicos” e “De­marcação das Áreas Paranormal e Mediúnica: Seus Aspec­tos nas Religiões e na Medici­na.”

Discorreu sobre o objeto da Parapsicologia, como epistemológico e sua divisão, inves­tigações psíquicas, as funções Psi-gama e Psi-kapa, demarcação das áreas da paranormalidade e mediúnica, con­trole dos fenômenos paranormais, entre outros. Fez uma vasta demonstração do estudo comparado, reportando-se a Holanda, França, União Soviética e Estados Unidos. Ainda expôs sobre regressões, terapias de vidas passadas, xenoglossia em crianças, que sugerem a reencarnação.

 

Médium Bom a Bom Médium

 

A parapsicologia, disse o palestrista, “lida tão só e exclusivamente com o homem enquanto ser biológico, históri­co e temporal e não como homem na sua dimensão trans­cendental, na condição de espere, seja no seu nível ontológico próprio, seja nas suas rela­ções com o mundo material. No espaço epistemológico da parapsicologia a hipótese do espírito como agente psíquico é absolutamente desnecessária. A Parapsicologia não nega nem afirma a existência extrafísica do homem e, por conse­guinte, as questões ligadas a sua possível sobrevivência “post-mortem” e não as cogita porque transcendem os limites do seu domínio epistemológi­co.”

A sobrevivência, continuou Dr. Rosa Borges, poderá cons­tituir-se matéria de especula­ção parapsicológica, se um dia o Espiritismo adquirir o “status” de ciência, estabele­cendo-se, assim, uma franja de relações interdisciplinares entre a Doutrina Espírita, porque a parapsicologia não faz apenas fronteiras com a religião, notoriamente com a física e outras ciências.

Referindo-se à teoria parapsicológica, afirmou ser ainda do tipo “caixa-preta”, mediante a qual só é possível investigar as entradas e as saí­das do sistema, ou seja, “não entendo de eletricidade, mas sei acender e apagar a luz”. Importa que o sensitivo (mé­dium) saiba ligar e desligar a sua função.

Dentro desta conotação, para a Parapsicologia o importante é o médium bom, que apresenta fenômenos mediúnicos que propiciam o campo da investigação cientí­fica e não o bom médium evangelizado do Espiritismo kardecista.

Na segunda palestra, demarcando as áreas paranormal e mediúnica, fez severas análises dos livros de Allan Kardec, reportando-se tam­bém a Gabriel Delanne, Camille Flammarion, Aksakof, Ernesto Bozzano e outros estudiosos espiritualistas, espíritas e parapsicólogos. Concluiu que o Espiritismo não é ainda admitido como ciência pela comunidade cien­tífica, mas que, inegavelmen­te, desenvolveu-se extraordi­nariamente como religião, no Brasil, em especial.

O Espiritismo, segundo o palestrista parapsicólogo, é viável de ser reconhecido oficialmente como Ciência, des­de que altere a formulação de seu objetivo, compatibilizando-se com as exigências meto­dológicas científicas.

 

A Física Admite A Existência de Deus

 

Ainda, dentro do lº tema, o dr. Ney Prieto Peres, através de projeção de slides e cita­ções de livros, inclusive os da codificação e psicografado pelo famoso médium de Uberaba, Francisco Cândido Xavier, ofereceu aos partici­pantes a oportunidade de receber uma magnífica aula sobre “Espírito, Corpo Espiri­tual e Físico”.

Sempre enfocando a matéria, dentro da colocação espírita kardecista, palmilhou através das ciências, princi­palmente dentro da Física, discorrendo sobre as suas mais recentes descobertas. Deteve-se nos estudos de William Crookes, Charles Richet, Conan Doyle, Camille Flammarion, Gabriel Delanne, Fritjof Capra (físico), Banerjee, Carlos Rubiat (físi­co), Isaac Newton e outros.

Hoje, disse o dr. Ney, a matéria considerada indivisí­vel está sendo descoberta pela física. Físicos, como Jacques Safat e Fritjof Capra (autor do livro: “O Tao da Física” admitem uma consciência além do espaço-tempo, que preside tudo no universo que pode manifestar-se criando luz. Esta forma luminosa começa a gravitar em torno dela mesma, formando um colapso gravitacional que é um anel de luz, que cria um quantum de matéria, que seria a unidade fundamental da matéria, dando origem aos corpúsculos conhecidos.

Também, o físico Carlos Rubiat, (autor da experiência do próton com anti-proton), concluiu que “as descobertas que estão sendo feitas na ciên­cia põem em evidência o fato de que a natureza é o resultado de uma concepção única, enor­me e magnifica. Se querem chamar isto de bom Deus, o certo é que uma inteligência fez tudo isto.”

No estudo do corpo espiri­tual, denominado por Allan Kardec de Períspirito, o dr. Ney Prieto Peres trouxe o estudo de Isaac Newton, que tratou muito mais do espírito do que da matéria, distinguin­do de acordo com os seus estudos dois tipos de luz: uma fenomênica, aquela que enxergamos com os nossos olhos materiais e uma luz vir­tual, que não vemos, que ele a chamou de luz numênica.

Analisou os livros da Codi­ficação kardequiana, no tocante ao estudo do períspirito e suas propriedades, reportando-se ao fluido cós­mico universal, matéria ele­mentar primitiva.

O corpo espiritual, períspirito ou ainda psicossoma (se­gundo André Luiz), é conhe­cido desde a mais remota Antiguidade, e hoje se conhe­ce mais de 50 sinônimos para designá-lo.

Segundo estudos que vêm sendo feitos com as Kirliangrafias, comprovou-se a exis­tência de um campo magnéti­co, que, nos seres vivos, se alte­ra com os estados emocionais. Também é visível o escoamen­to da doação magnética das mãos do doador para o recep­tor.

Terminou a palestra lembrando as vestes nupciais, referidas na parábola do “Festim de Núpcias ou Festa de Bodas”, de Jesus, que, em virtude do pouco conheci­mento daquela época, não poderia explicitar que as ves­tes nupciais referiam-se ao períspirito, que é o envoltório fluídico do homem, que se modifica segundo a gradua­ção de sua moral, da pureza do seu coração, da prática da lei do amor e da caridade.

 

Debates

 

Primeiro tema: Foi ampla­mente debatido pelo dr. Alberto Lyra, prof. dr. Hermínio Miranda, prof. Reinaldo Pirani, dr. Denizard (de Porto Alegre), dr. Ary Lex, dr. Alexandre Sech (de Curiti­ba) e dr. Ney Pietro Peres.

O dr. Alexandre Sech refu­tou diversas colocações do dr. Rosa Borges, principalmente as críticas feitas aos livros de Allan Kardec.

Em referindo-se à colocação feita pelo dr. Ney, o dr. Hermínio Miranda fez a seguinte pergunta: “Sabemos que a velocidade da luz é de 300.000 km/segundo; será que este limite já não foi ultra­passado pela velocidade do espírito, ou seja, do pensa­mento? Não teríamos aí uma revolução na própria física?”

Ao que o dr. Ney respon­deu: “Hoje, na física, temos um efeito chamado éter-hertz ou problema de Hertz, em que uma partícula de próton, quando fragmentada por uma ação nuclear, se divide em dois fótons de cargas contrá­rias, que começam a se distan­ciarem ao infinito, sendo que estes fótons têm um movi­mento chamado “spin”, girando em sentidos contrá­rios. Se por um fato, um des­tes fótons mudar a posição do seu movimento, o outro, ime­diatamente, muda o seu movi­mento, independente da dis­tância em que se encontram um do outro. Isto acontece mesmo que a distância seja de milhões de anos-luz, mostran­do aí que existe um outro meio de comunicação entre as próprias partículas físicas, que podemos dizer, acontece tão rápido quanto a velocida­de do pensamento.”

O dr. Ary Lex ficou com a posição do dr. Rosa Borges no tocante a imortalidade da alma, de que não é passível de investigação científica, lamen­tando que o Espiritismo no Brasil tenha-se tornado mais uma religião para as massas, como tantas outras, em detri­mento às investigações cientí­ficas, acrescentando que ele, pessoalmente, não aceita mais do que 80% dos livros de André Luiz.

O dr. Ney esclareceu que em Física, da mesma maneira em que não se podem ver os corpúsculos dos átomos e se estudam através dos seus ras­tros, então, poder-se-á estu­dar os espíritos da mesma for­ma. Também, os fenômenos das comunicações com os mundos espirituais, se a Ciên­cia não aceita os médiuns por­que são passíveis do animis­mo, então através dos apare­lhos eletrônicos poderão ser constatados este intercâmbio, como é o caso do aparelho “Spiricon”, em experiência. Aí, então, poderemos encon­trar um campo fértil de inves­tigação científica.

Ao final, concluiu Dr. Walter Rosa Borges que a sua intenção não é a de “puxar a brasa” para a Ciência e refu­tar o Espiritismo, mas de “di­vidir a brasa”, pois, embora a parapsicologia tenha o seu campo específico, juntos poderão realizar um trabalho altamente produtivo.

 

 

FOLHA ESPÍRITA

Dezembro. 1985.

 

MARCANTE SUCESSO DO 1° SIMPÓSIO DE PARAPSICOLOGIA, MEDICINA E ESPIRITISMO

                Obteve grande sucesso o 1° Simpósio de Parapsicologia, Medici­na e Espiritismo, não só pela elevada frequência como pelo alto nível cultural dos expositores, debatedores e dos assuntos expostos e debatidos, que suscitaram elevado interesse do grande público que superlotou o salão de Convenções da Secretaria de Estados dos Negócios do Interior, gentilmente cedida para esse evento pelo Sr. Secretário Dr. Chopin Tavares de Lima. Entre as autoridades médicas que se fizeram presentes, destacamos o Dr. Oswaldo Gianotti Filho, M.D. Presidente da Associação Paulista de Medicina. Os expositores foram: Eng° Hernani G. Andrade, Dr. Walter Rosa Borges, Prof. Hermínio C. Miranda, Dra. Marlene S. Nobre, Eng° Ney Prieto Peres e Dr. Freitas Nobre. Entre os debatedores estiveram presentes o Prof. Denizard Souza (da Faculdade de Medicina de Santa Maria, RS), Dr. A. Sech (Curitiba), Dr. Pedro O. Mundim (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), Dr. Jader Rodrigues de Paulo (Diretor Clínico do Hospital Espirita André Luiz, de Belo Horizonte), Dr. Ary Lex, Dr. Alberto Lyra, Dr. Péricles Nogueira, Dr. A. Rotberg, Dr. H.P. Vaiada. Dr. Rubens K. José. Dr. Roberto Brólio, Dr. Tedesco Marchese, Dra. M. Julia Peres, Ac. Paulo Negro Filho e outros.

A matéria deste Simpósio será publicada em próximo Boletim Médico Espírita.

OBJETIVOS DO EVENTO

 

O 1° Simpósio Brasileiro de Parapsicologia, Medicina e Espiritis­mo foi estruturado para reunir, numa sequência de temas que se inter-relacionam, as abordagens científica, filosófica, orgânica, psicológica e social da criatura humana, no seu contexto espirito-mente-corpo, na visão holística, ou espírito-períspirito-corpo, na visão kardecista.

O trabalho do Eng° Hernani Guimarães Andrade, presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas, mostrou: As Três Faces da Parapsicologia: a Face Soviética, a Face Ocidental e a Face Espírita Brasileira, na investigação da paranormalidade, dentro de uma evolução dialética. A abordagem soviética, baseia-se unicamente nas propriedades da matéria física; a ocidental tende para conceitos físi­cos com tendências metafísicas; a espírita-brasileira amplia o conceito de matéria, admitindo sua extensão além dos aspectos tridimensórios postulando um componente espiri­tual de matéria quintessenciada, repo­sitório das experiências multidimensitório das experiências multidimen-programado. Por isso a Face Espírita Brasileira, além de reunir os aspectos cientifico e filosófico, integra-os numa visão comportamental ético-humanística que inevitavelmente leva a criatura a um posicionamento social de vida, no esforço de renovação interior pela vivência evangélica Terminou a palestra lembrando as vestes nupciais, referidas na parábola do “Festim de Núpcias ou Festa de Bodas”, de Jesus, que, em virtude do pouco conheci­mento daquela época, não poderia explicitar que as ves­tes nupciais referiam-se ao períspirito, que é o envoltório fluídico do homem, que se modifica segundo a gradua­ção de sua moral, da pureza do seu coração, da prática da lei do amor e da caridade.

PARAPSICOLOGIA E ESPIRITISMO

 

Os estudos do Prof. Dr. Valter da Rosa Borges, promotor de Justiça, pernambucano, professor universitá­rio e presidente da Academia Per­nambucana de Ciências, foram apre­sentados nas palestras: «O Universo dos Fenômenos Paranormais e Me­diúnicos» e a «Demarcação das Áreas Paranormal e Mediúnica: Seus Aspectos nas Religiões e na Medici­na», mostram o estreito e intrincado relacionamento entre os fenômenos paranormais conceituados na moderna Parapsicologia, os mediúnicos e os metapsiquicos que já foram estudados, entre outros, por Allan Kardec, Charles Richet, Camille Flammarion, William Crookes, Ernesto Bozzano, Alexandre Aksakof, Oliver Lodge, Gabriel Delanne, Albert de Rochas, Johann Friedrich Zollner, no ‘século passado e no começo deste. O Prof. Rosa Borges considera «mé­dium aquele que habitualmente apre­senta fenômenos paranormais», e assevera: «No entanto, há pessoas que são predispostas a passar por experiências paranormais, e outras que, esporadicamente, manifestam tais fenômenos».

 

Debates

 

Primeiro tema: Foi ampla­mente debatido pelo dr. Alberto Lyra, prof. dr. Hermínio Miranda, prof. Reinaldo Pirani, dr. Denizard (de Porto Alegre), dr. Ary Lex, dr. Alexandre Sech (de Curiti­ba) e dr. Ney Pietro Peres.

O dr. Alexandre Sech refu­tou diversas colocações do dr. Rosa Borges, principalmente as críticas feitas aos livros de Allan Kardec.

Em referindo-se à colocação feita pelo dr. Ney, o dr. Hermínio Miranda fez a seguinte pergunta: “Sabemos que a velocidade da luz é de 300.000 km/segundo; será que este limite já não foi ultra­passado pela velocidade do espírito, ou seja, do pensa­mento? Não teríamos aí uma revolução na própria física?”

Ao que o dr. Ney respon­deu: “Hoje, na física, temos um efeito chamado éter-hertz ou problema de Hertz, em que uma partícula de próton, quando fragmentada por uma ação nuclear, se divide em dois fótons de cargas contrá­rias, que começam a se distan­ciarem ao infinito, sendo que estes fótons têm um movi­mento chamado “spin”, girando em sentidos contrá­rios. Se por um fato, um des­tes fótons mudar a posição do seu movimento, o outro, ime­diatamente, muda o seu movi­mento, independente da dis­tância em que se encontram um do outro. Isto acontece mesmo que a distância seja de milhões de anos-luz, mostran­do aí que existe um outro meio de comunicação entre as próprias partículas físicas, que podemos dizer, acontece tão rápido quanto a velocida­de do pensamento.”

O dr. Ary Lex ficou com a posição do dr. Rosa Borges no tocante a imortalidade da alma, de que não é passível de investigação científica, lamen­tando que o Espiritismo no Brasil tenha-se tornado mais uma religião para as massas, como tantas outras, em detri­mento às investigações cientí­ficas, acrescentando que ele, pessoalmente, não aceita mais do que 80% dos livros de André Luiz.

DOR, DESTINO, EVOLUÇÃO PROGRESSO MORAL

 

Culminando naturalmente para as conclusões dos objetivos do evento, num importante momento de síntese, como mensagem a ser deixada a todos os participantes presentes, a Mesa Redonda com todos os palestrantes, condensa as colocações direcionadas no esclarecimento coerente e racional do porquê da «Dor, Destino, Evolução, Progresso Moral».

 

ENCERRAMENTO

 

Coube ao Dr. António Ferreira Filho, presidente da Associação Médico-Espirita de São Paulo a palestra de encerramento.

A pesquisa e o estudo dos fenômenos que nos farão conhecer a natureza intima de nós mesmos, só terão sentido maior se buscarmos a eles relacionar a problemática humana, encontrando os caminhos que nos levarão de retorno à «Casa do Pai», nas suas muitas moradas, na condição de «filhos pródigos», que depois de muito sofrer, valoriza o que Dele recebemos, colocando os seus talentos em benefício da comunidade planetária, multiplicando-os infinita­mente.

Embora o evento tenha tratado substancialmente da fenomenologia, que tanto impressiona os nossos sentidos, como vem sendo pesquisa­da na Parapsicologia dos dias atuais, extrapolou dessa área para fazer considerações de ordem psíquica, biológica, psicológica, terapêutica, social, política e ético-religiosa, es­truturadas na tese espírita que se fundamenta na existência do espírito, na sua sobrevivência, comunicabilidade, inter-relação com os vivos e o renascimento após a morte física.

A diretriz dada aos temas apresentados visou estabelecer um questionamento objetivo de vida, contribuindo de forma sólida para todos quantos buscam posicionar-se no mundo, de modo crescente, construtivo e operante, dentro de si mesmo e nos diversos campos de relacionamento: na família, no trabalho, na sociedade, para com a Pátria, com o Universo e para com Deus.

 

BOLETIM DO IPPP

INSTITUTO PERNAMBUCANO DE PESQUISAS PSICOBIOFÍSICAS

ANO I. Nº 1. ABRIL DE 1985

 

EXPERIMENTO FRACASSADO

 

Valter Rosa Borges

 

Em 1891, Frederic Myers deixou em poder de Oliver Lodge uma carta lacrada para ser aberta após a sua morte, com o propósito de se fazer um teste comprobatório de sobrevivência.

Com a morte de Myers, em 1901, o seu “espírito” três anos após, ou seja, em 1904, ditou o conteúdo da carta para a médium Sra. Verrall. Uma vez aberta a carta, verificou-se que a mensagem deixada por Myers, quando vivo, não conferia com a que fora transmitida por ele na condição de “espírito”.

Porque a médium não obteve êxito nessa experiência, os adversários da hipótese da sobrevivência rejubilaram-se com o fato, afirmando que o fracasso do teste era uma prova contundente da impossibilidade da continuidade da consciência post mortem.

Se ocorresse, porém, o contrário seriam os defensores da sobrevivência que exultariam com o fato, afirmando comprovada a sua hipótese.

Acontece, não obstante, que este tipo de experimento nada prova em favor da sobrevivência ou contra ela. O teste imaginado por Myers se mostrou Insuficiente para fazer esse tipo de prova.

Se a Sra. Verrall tivesse logrado êxito neste experimento, tal fato não provaria a sobrevivência de Myers, pois a médium poderia, por clarividência, ter-se informado do conteúdo da car­ta lacrada. Diz-se que o notável médium Ochorowicz jamais se equivocou neste tipo de experimento, conseguindo ver, quase sempre com exatidão o que estava contido em envelopes fe­chados. Ora, se a Sra. Verrall, dizendo-se sob a “influência” do ”espiri­to” de Myers, pudesse ler o conteúdo na carta lacrada que fora confiada a Oliver Lodge, o fato seria explicado pelo fenômeno da clarividência.

Cartas lacradas, códigos secretos, ou quaisquer procedimentos idênticos não constituem experimento crucial para a hipótese da sobrevivência, visto que tais segredos pedem ser desvendados pela faculdade de psi-gama de um bom médium, quer por telepatia, quer por clarividência.

Toda vez, portanto, que um fenômeno paranormal puder ser explicável pela própria capacidade da mente hu­mana, a hipótese da sobrevivência deverá ser sumariamente descartada.

 

BOLETIM DO IPPP

INSTITUTO PERNAMBUCANO DE PESQUISAS PSICOBIOFÍSICAS

ANO I. Nº 3. OUTUBRO DE 1985

 

CURAS PARANORMAIS

 

Valter da Rosa Borges

 

O homem sempre obteve, de um modo ou de outro, através de proces­sos denominados “naturais”, a cura para os seus males. É evidente, contudo, que os meios utilizados por essa terapêutica “natural” são empíricos e não obedecem a uma técnica orientada pela razão e pelo conhecimento. Além do mais, os resultados obtidos – alguns até extraordinários – são, na maioria dos casos, duvidosos, pois constituem, quase sempre, na simples remoção de sintoma E, nisto, é que consiste o grande perigo do curandeirismo: o mascaramento dos sintomas, impedindo a precisão do diagnóstico e comprometendo a possibilidade clínica da cura.

Indiscutível, portanto, a exis­tência de uma terapêutica empírica que, através de procedimentos mágicos e apelos sugestivos, é capaz de, em proporção ignorada, restabelecer o equilíbrio orgânico de pessoas aparentemente doentes„ E, de propósito, utilizamos a expressão “apa­rentemente doentes”, porque, como demonstrou a medicina psicossomática, uma grande parte de nossas enfermidades é de natureza psíquica e emocional, e não orgânica. Assim, po­demos dizer, de certo modo, que curandeirismo é uma arte de curar pela sugestão, mediante a manipulação de elementos mágicos suscetíveis de alterar o estado psíquico do paciente, com reflexos modificadores no seu funcionamento orgânico.

Podemos conceituar o curandeiro como aquele que pretende curar en­fermidades pela virtude de seus pretensos poderes. Não raramente, ele se julga um ser excepcional, um mis­sionário, uma pessoa poderosa, o que poderá levá-lo a uma impermeável megalomania e paranoia delirante.

Geralmente, o curandeiro é oriundo da classe pobre, sem qualquer preparo intelectual, desejoso de se afirmar na vida e sem qualquer preo­cupação quanto aos meios de atingir seus objetivos. E, quando se vê, de uma hora para outra, guindado a um certo “status” na sociedade, emprega todos os esforços para manter e até melhorar a posição conquistada Por isso, seja movido pela vaidade, seja movido pela cupidez, procura atuar em faixa própria, criando o seu grupo de adeptos. Promove a propaganda dos seus poderes é assume um ar de superioridade, impre­gnado de duvidoso misticismo, evi­tando, a todo custo, qualquer in­vestigação sobre a autenticidade do seu carisma.

Todavia, nem todo aquele que se diz possuidor de poderes de cu­ra realmente os possui. Na maioria dos casos, são pessoas dotadas de forte personalidade e de grande capacidade de persuasão. Via de regra, as curas obtidas por esses pretensos curandeiros – algumas de natureza orgânica – podem ser ex­plicadas psicologicamente, embora ainda pouco se saiba dos mecanismos de interação entre a mente e o corpo. Ora, uma pessoa possuidora, assim, de tais atributos poderá contribuir, de maneira extraordinária, para uma mais ampla compreensão da terapêutica ortodoxa, e acadêmica, com o maior aproveitamento do elemento psíquico na gênese das curas. Se a fé pode curar, por que não a utilizar como eficaz adjutório na recuperação orgânica do paciente?

Por conseguinte, essas pessoas de excelente poder sugestivo e de rara habilidade em despertar a fé nas pessoas, deveriam, sem perda de tempo, ser aproveitadas pela Me­dicina, numa atividade paramédica, devidamente controlada. O perigo reside justamente no fato de se tolerar que esses curandeiros permane­çam a solta, iludindo, conscientemente ou não, os verdadeiros enfermos, prometendo-lhes alívio para os seus males com a simples remoção dos sintomas, mas, por outro lado, contri­buindo para o agravamento das doenças tornando-as, não raras vezes, incuráveis. E há curandeiros que, num ver­dadeiro crime contra a saúde pública, chegam a proibir que os seus pacientes consultem médicos, ou lhes ordenam que suspendam a medicação, ou o tratamento a que vem se subme­tendo.

Mas, agora, é de se perguntar se, por acaso, não existem curas paranormais, curandeiros autênticos. Existem sim, mas são raros os casos e também raras essas pessoas.

Sem querer penetrar o domínio religioso, a Parapsicologia vem es­tudando, atentamente, os fenómenos, de curas paranormais e já pode assegurar a sua realidade. Sim, há curas paranormais. E também há pessoas que possuem um tipo de energia desconhe­cida, denominada do telergia, capaz de atuar fora de seu contexto orgâ­nico e causar modificações nas coi­sas materiais e até nos seres vivos inclusive o próprio homem. Os fenô­menos de psi-kapa são a prova irre­futável do misterioso poder que a mente humana possui de agir direta­mente sobre o mundo exterior, pres­cindindo do concurso de sua instru­mentação biológica.

Se uma pessoa possui telergia e procura aplicá-la em benefício de terceiros, ela é, realmente, um curandeiro. Mas, para o exercício seguro de sua faculdade, deve abster-se de atuar em faixa própria e permitir que a sua atividade tera­pêutica seja, permanentemente su­pervisionada por um médico. Só as­sim, a cura paranormal poderá constituir, futuramente, um excelente auxiliar da Medicina.

 

O trabalho do Instituto foi reconhecido fora do Estado, quando, na Folha Espírita do mês de janeiro, Karl W. Goldstein, (pseudônimo de Hernani Guimarães Andrade) em artigo intitulado “As Sociedades de Pesquisa Psíquica”, considerou o IPPP como uma das melhores instituições de Parapsicologia no Brasil.

 

Viagem, a passeio, a Fortaleza, Ceará. E a Maceió, Alagoas.

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