1976

De 1957, ano do meu casamento, até 1976, a minha atividade de escritor ficou estacionada, pois, durante esse longo período, me dediquei a consolidar a minha vida profissional, culminando com a minha entrada para o quadro de promotores de justiça do Ministério Público de Pernambuco, e às minhas atividades espirituais e de conferencista espírita.

Este ano, porém, reiniciei a minha atividade de escritor com o lançamento do meu livro “Introdução ao Paranormal”, no dia 29 de julho, na TV Universitária Canal 11, em solenidade presidida pelo Reitor da Universidade Federal de Pernambuco, Prof. Paulo Maciel. Como se tratava de uma obra ainda mesclada de concessões ao Espiritismo, recebeu o maior apoio do movimento espírita nacional, sendo solicitada e vendida, não só em Pernambuco, como também em outros Estados.

O Reitor da Universidade Federal de Pernambuco, Prof. Paulo Maciel, que presidiu a solenidade, pronunciou o seguinte discurso:

 

“Considero o lançamento do livro de Valter da Rosa Borges um acontecimento de alta expressão universitária”.

Para nós, ele não é só Universidade em formação, como é um para-universitário, por ser um dos esteios desta TV, como ainda antecipa, para Pernambuco, o primeiro lançamento de um livro didático sobre disciplina tão importante.

Aborda, realmente, não apenas a fenomenologia parapsicológica, como também a condição do paranormal. Este é um objeto importantíssimo para o momento presente, não só para o novo humanismo, que não nos parece ser só antropocêntrico, mas universal, no bom sentido do termo como para novas contribuições da ciência, que desvenda caminhos nunca dantes navegados.

O esforço de Valter é elogiável, sob todos os aspectos, porque, sozinho, enfrentou um tema árduo, numa bibliografia difícil, e se dispôs a colaborar com nós outros para possibilitar os curiosos, como eu e muitos outros, deste tema, encontre, nos seus esquemas racionais, bem pensados e bem explicados, facilidades que ele não teve e que ele graciosamente, fraternalmente, quer estender a todos nós.”

 

Além do reitor da UFPE, Prof. Paulo Maciel, participaram da solenidade o Dr. Waldemir de Oliveira Lins, Procurador Geral de Justiça; o Dr. Martiniano Lins, Presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco; o Prof. Lourival Vilanova, um dos maiores juristas brasileiros; o Dr. Francisco Dário Mendes Rocha, Diretor da TV Universitária Canal 11, da UFPE; tenente-coronel Walter Benjamin, diretor do DETRAN, sociólogo José Xavier Pessoa de Moraes, Pe. Nércio Rodrigues, advogado Berguedoff Elliot, escritor Amílcar Dória Matos, engenheiro Ivo Cyro Caruso, psicólogo Walter Wanderley Barros, Humberto Vasconcelos, diretor do TER, artista plástico Wilton de Souza, médium Manoel Rabelo Pereira (Pai Ely), poeta José Aurélio de Farias, médium José Macedo de Arruda (Irmão Macedo), jornalista Nilton Santos, médico Arnaldo Marques, linguista Adauto Pontes, jornalista Jorge Borges de Souza, do Instituto de Cultura Espírita da Paraíba  e outras personalidades do mundo cultural e jurídico de Pernambuco.

A repercussão do livro foi das melhores, tanto assim que, mediante ofício, datado de 1º de abril de 1977 e assinado por Janet M. Biggs, a Library of Congress Office, Brazil, solicitou-me o envio do Introdução ao Paranormal à sede da Biblioteca em Washington.

 

IMPRENSA

JORNAL DA CIDADE

 

Edição de 14 a 20 de setembro de 1976

 

Uma Lição de Normalidade

 

Amílcar Dória Matos

“Livros como Introdução ao Paranormal, de Valter da Rosa Borges (edição do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas), deixam a gente pensando em muita coisa. Será que ainda engatinhamos no caminho do entendimento da nossa verdadeira dimensão, ignorantes dos segredos da nossa mente e, ao que tudo indica, do nosso espírito imortal? Será que andamos muito convencidos da nossa individualidade, do nosso discernimento, da nossa cultura e sabedoria, quando na verdade deveríamos concluir, como Pound, que não passamos de pretensiosos ignorantes?

O Autor nos conduz didaticamente, sem alardes nem pressas, pelas sinuosidades de um mundo novo que, até há pouco tempo, era objeto de remoque e zombaria, mas que começa a atrair a atenção dos cientistas do mundo inteiro, em especial dos estudiosos da natureza humana – o da Paranormalidade. O homem parece estar sempre em guarda contra os segredos escondidos dentro de si mesmo, julgando e agindo na conformidade dos seus sentidos, dos seus “consagrados” sentidos. Então sempre houve uma propensão a atribuir a “artes do demônio”, fenômenos que, à luz da inteligência, deveriam estar sendo, há muito, pesquisados com a mesma seriedade com que se estudaram e se estudam, por exemplo, as dores de dentes. Sucede que os dentes não fogem à percepção sensorial, enquanto  certos “fluidos”, “energias” ou mesmo ostensivas manifestações escapam à suposta racionalidade. E isso é profundamente humilhante para o homem.

Mas, de tanto se repetirem, os fenômenos se impõem. E vêm bater a nossa porta com a força de uma nova mensagem, despertando-nos de superstições e temores. Como estamos num século em que se pretende fazer desabar a multidão de tabus que já não fazem sentido, as pessoas “sérias” começam a abrir a porta. Os muitos princípios filosóficos, científicos e/ou religiosos, até há pouco olhados de esguelha, passam a ser melhor analisados, com exaltação ou repúdio, total ou parcial, o que é bom para esses próprios movimentos ou seitas, nos quais também se escondem extremismos e ortodoxias nefastas. O Espiritismo e a Teosofia, para citar apenas dois exemplos, são objeto de melhor atenção. Retornamos ao Oriente, quais novos Marcos Polos, pelas mãos do Budismo, do Taoísmo, do Zen ao estudo do qual o admirável Thomas Merton, monge trapista, destinou valiosas páginas antes de encantar‑se em Bangcoc. Até que a Parapsicologia virou moda, talvez nem sempre separando bem os campos ocupados por uma multidão heterogênea de ramos científicos, seitas religiosas, artes circenses, fanatismos e fetiches.

É num momento assim que o livro de Valter da Rosa Borges nos introduz ao Paranormal, com a paciência de mestre de aldeia que tem a cultura dos frequentadores das metrópoles do saber. Como quem pisa muito de leve em chão de tapete, Valter caminha anos a frente com firmeza e vigor nas linhas, entrelinhas, meandros e labirintos de sua obra, tão carinhosa e meticulosamente construída. Donde enfatizar sua preocupação eminentemente didática, “com o propósito de orientar os interessados no território da fenomenologia paranormal, valendo-nos. algumas vezes, de esquemas pessoais, fruto de nossa experiência de mais de vinte anos no trato de tais problemas”.

Essas experiências, como nós as conhecemos… Às vezes de longe, às vezes de perto, às vezes plenamente “por dentro”, vimos acompanhando as passadas desse ainda jovem pesquisador, que deposita ante os nossos olhos e a nossa consciência um trabalho pioneiro. Pioneiro, em vários sentidos. Não consta haver, no campo da Paranormalidade, um ABC que nos propicie uma apresentação ampla e, ao mesmo passo, acessível. Tampouco não consta existir obra de fôlego como essa, em que a preocupação primeira do Autor, longe de ser com ele mesmo e suas ideias, é sobretudo com o leitor e suas perplexidades. Cuidamos também não existir no mercado livreiro trabalho que verse temas tão escorregadios, tão aptos a ferir melindres de conversos, convictos e sábios, sem que ao cabo se ergam barricadas heréticas e gritos de revolta. Valter vai caminhando tranquilo, equilibrado, inabalável por esses tortuosos caminhos. Porque seu compromisso é com a verdade. E não se pergunte o que é a verdade ou onde ela se esconde — os fatos ou os pseudofatos tecem a teia de sua estrutura, embora só a vejam os que têm olhos de ver.

Qual tupiniquim Krishnamurti, Valter não se assume rótulos. Seu livro é uma introdução, didática, relativamente simples, deve ter suas falhas por ser humano (humaníssimo) como o Autor, deve deixar descontentes alguns iniciados, que foram nele porventura procurar revolucionárias novidades. Mas cumpre sua finalidade. Porque é o próprio Valter Rosa Borges quem diz: O importante é prosseguir.”

 

 

DIÁRIO DE PERNAMBUCO,

12 de setembro de 1976

 

Um Livro e um Programa de TV

 

José Xavier Pessoa de Moraes

 

O livro Introdução ao Paranormal, que Valter da Rosa Borges publicou recentemente, é o resultado direto de suas velhas preocupações intelectuais e atividades culturais à frente do programa da TV Universitária – O Grande Júri, de excelente audiência. O livro estabelece uma diretriz di­dática facilmente compreensível concernente a vários as­suntos da parapsicologia que quase sempre nunca são en­feixados num volume accessível a um público mais amplo de leitores.

A própria nomenclatura introduzida por J. B. Rhine, em suas pesquisas parapsíquicas, desde os anos 30, na Universidade de Duke, Estados Unidos, e de repercussão mundial em torno da classificação geral desses fenômenos em psi-gama e psi-kapa, isto é, em fenômenos mentais pro­priamente ditos e fenômenos envolvendo repercussões físicas ou orgânicas mais diretas, é colocada como base de sua visão metodológica.

É verdade que essa diferenciação é ainda, ao meu ver, uma ambiguidade do próprio. Rhine, criador da parapsicologia nos moldes universitários hoje conhecidos. E isso porque tanto o fenômeno chamado psi-gama, mais vincu­lado à vida mental em sua feição específica, como o fenô­meno psi-kapa, envolvendo repercussões físicas ou fisioló­gicas, resultam de um dado ainda não elucidado. Ou me­lhor, de uma perspectiva genérica dos fenômenos mentais, cujas raízes epistemológicas até aqui jamais foram discer­nidas. O que levou, por isso mesmo J. B. Rhine, de saída, a cometer o vício lógico de intentar fazer classificações sem nunca haver pesquisado ou se preocupado intelectualmente senão com um âmbito bastante limitado desses fe­nômenos e, em decorrência disso, comete vícios ao mesmo tempo tão implícitos quanto intransponíveis de abordagem.

No caso de Valter da Rosa Borges, há, em seu traba­lho na TV-U e no livro já referido, uma preocupação de ca­ráter menos fragmentado. Assim, Valter da Rosa Borges trata, no livro, dos mais variados temas da parapsicologia, informando, com inteligência, o leitor a respeito de toda uma multiplicidade de questões que constituem o assunto de maior curiosidade humana e intelectual de toda a época que estamos vivendo.

A introdução mesma das raízes do chamado psi-gama ou do chamado psi-kapa no tratamento didático do tema, como fez o autor de Introdução ao Paranormal, dentro dos moldes a que se propõe o livro, ou seja, mostrar uma visão geral da parapsicologia em termos de hoje, constitui, des­te ângulo, uma novidade sistemática e didática. Todo o trabalho de Rosa Borges é mesmo de organização concei­tual ou de exposição, tentando e conseguindo, dentro do que se propôs, dar uma bem elaborada sinopse dos estu­dos parapsicológicos, tais como são considerados até aqui. Nesse ponto seu livro alcança um sentido digno de menção, pois a estrutura de quase toda parapsicologia conhecida sofre, no livro, inclusive reconsiderações com interessantes aspectos didáticos, de exposição e conceitos.

Por cima é de se considerar que tanto o livro comen­tado como, aliás, o programa – O Grande Júri, da TVU, dirigido por Valter da Rosa Borges, representam um im­portante passo para uma nova mentalidade cultural no Nordeste. Esse programa, que está conseguindo levar real­mente a Universidade ao grande público, realizando o ideal sempre sonhado mas quase sempre jamais sequer iniciado, de conciliar as preocupações do saber com a comunidade, começa a produzir efeitos bastante promissores.

A discussão precisamente, pela vocação dos estudos de Rosa Borges, de temas ligados com as grandes interroga­ções que assumem conotação especial nesse quarto final de século, faz da TV-U e desse livro um marco na mentalidade regional. Valter da Rosa Borges, com o Grande Júri e a Introdução ao Paranormal, abre, ao meu ver, novo ciclo cultural de interesses. Consegue deslocar o primarismo da pura literatice (distingo visceralmente literatura de lite­ratice), de grande parte das vulgares preocupações inte­lectuais ainda dominantes para algo mais sério.

Daí a incontestável projeção, em toda a comunidade de Pernambuco e da Paraíba, por exemplo, do seu progra­ma na TVU. Fato que levou o reitor Paulo Maciel, na ver­dade um autêntico intelectual ocupando a reitoria, uma vocação de schollar, no sentido mais legitimo do termo, a considerar o trabalho de Valter da Rosa Borges, quando a­presentou o livro, tão obstinado quanto de evidente alcan­ce cultural.

Como colaborador dos programas da TV-U, discutindo eu, previamente tópicos de obra a ser, aliás, em breve, pu­blicada nos Estados Unidos e na Europa, constatei a enor­me repercussão desses meus estudos através do programa O Grande Júri. Sou procurado, com frequência, por inume­ráveis pessoas de todos os setores e condições sociais. ávidas de explicações em torno de enigmas humanos ou do Universo até agora nunca explicados.

O grande veículo disso é a TV-U, onde Rosa Borges, a­gora também com o livro Introdução ao Paranormal presta, assim, um grande serviço a Pernambuco e ao Nordeste, an­tecipando-se ao debate de assuntos que conciliam a Uni­versidade com a comunidade e com as mais genuínas in­terrogações de toda a Humanidade. E isso em torno dos intrigantes mistérios que cercam até hoje, a decifração da natureza e da vida humana.

Comecei a ministrar cursos e palestras de parapsicologia, assim como de outros temas, em Universidades, instituições científicas, literárias e místicas.

 

Palestra no Rotary Club do Recife, no dia 19 de agosto, sob o título “Parapsicologia: uma Nova Visão do Universo”.

 

 

A convite da Fundação de Cultura da Paraíba – FUNCEP e com o apoio da Universidade Federal da Paraíba, ministrei um Curso de Parapsicologia naquela instituição de ensino, de 15 a 17 de outubro. E fiz o lançamento do livro Introdução ao Paranormal. A imprensa local deu grande destaque ao evento e o jornal A União, de João Pessoa, na sua edição de 9 de outubro, entrevistou-me a respeito da Parapsicologia e do aludido Curso.

Encontro com José Américo de Almeida na residência deste na praia de Tambaú, João Pessoa. Ele era romancista, ensaísta, poeta, cronista, político, advogado, professor universitário, folclorista e sociólogo.

IMPRENSA

 

JORNAL “A UNIÃO”.

 

João Pessoa, 9 de outubro de 1976

 

VALTER ROSA BORGES: UMA INCURSÃO NO PARANORMAL

 

A FUNCEP (Fundação Cultural do Estado da Paraíba), em colaboração com a Universidade Federal da Paraí­ba, estará promovendo um curso de pa­rapsicologia e fenômenos paranormais nos dias 15, 16 e 17 do corrente mês, no auditório da Reitoria. O conferencista é o Professor Valter da Rosa Borges, di­retor do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas e produtor e di­retor do programa “O Grande Júri”, da TV Universitária de Recife. Em ja­neiro de 1973, Rosa Borges foi eleito, pelo “Jornal de Letras”, do Rio de Ja­neiro, ao lado de intelectuais como Cé­sar Leal, Ariano Suassuna, Oswaldo Gonçalves Lima e Pessoa de Moraes, uma das personalidades da cultura de Pernambuco em 1972.

Durante mais de duas décadas, Valter Rosa Borges vem se dedicando ao estudo e à pesquisa dos fenômenos paranormais e já ministrou vários cur­sos de Parapsicologia, um dos quais na TV Universitária Canal 11.

Para Valter da Rosa Borges, fenô­menos parapsíquicos são aqueles em que a ação paranormal é intei­ramente psíquica. A ação paranormal, por sua vez, não resulta da vontade cons­ciente do médium. Segundo Rosa Bor­ges, na quase totalidade dos casos, ele re­vela uma intencionalidade e uma capacida­de operacional além das possibilidades hu­manas normais.

E como Valter da Rosa Borges defi­niria o médium?

Valter da Rosa Borges: Alguns pa­rapsicólogos admitem que todo médium é impressionável, o que não importa na reciproca de que toda pessoa impressio­nável seja médium. Os grandes médiuns são raros. São como os gênios que apare­cem, esporadicamente, na história da Hu­manidade. Por isso Robert Tocquet admitiu que “o aparecimento dos grandes Mé­diuns se acha submetido a uma espécie de ritmo, provavelmente suscitado ele próprio por ciclos terrestres e cósmi­cos.”

Há duas espécies de médiuns, o consciente e o inconsciente. O conscien­te é aquele que permanece em aparente vigília, por ocasião dos fenômenos, po­dendo, em certas circunstâncias, produ­zir, voluntariamente alguns deles. Já o mé­dium inconsciente é aquele que fica des­pojado de sua consciência por ocasião dos fenômenos, não guardando, ao retor­nar ao estado vígil, a mínima lembrança do acontecido.

E o que seria a psi para Valter da Rosa Borges?

  1. R. B.: Justamente uma intencio­nalidade e uma capacidade operacional além das possibilidades humanas nor­mais. A ação psi pode ocorrer, estando o seu possível agente ou o percipiente: em aparente vigília; em sonho; em transe; em iminente perigo de vida; em extrema debilidade orgânica; sob indução psicométrica. Ao mesmo tempo, podemos des­tacar na Psi as seguintes características: a) Instabilidade. Ela apresenta variações segundo os dias, os ambientes e os experi­mentadores; b) Incontrolabilidade. A Psi não está sujeita à vontade consciente do médium e, mesmo nas raras ocasiões em que isto ocorre, é impossível saber-se até que ponto aquela vontade ocasionou a produção de um fenômeno Psi; c) Inde­pendência de sexo, idade, etnia e inteli­gência. A experiência tem demonstrado que a Psi não é privilégio de um tipo es­pecial de pessoa; d) Insusceptibilidade de aprendizado. Nada sugere, a rigor, que a Psi seja passível de aprendizagem, embo­ra Rhine acalente essa possibilidade.

Duas hipóteses procuram explicar a natureza da Psi, a organicista e a espiritualista. A quase totalidade dos parap­sicólogos é de opinião que a Psi é de na­tureza biológica. Allan Kardec já admitia que “a faculdade mediúnica é uma pro­priedade do organismo e não depende das qualidades morais do médium”. A expe­riência tem sugerido que a Psi é de natu­reza orgânica, pois o emprego de certas substâncias parece estimulá-la ou inibi-la.

Constatou-se, também, que o estado de saúde do médium influi, decisivamente, na sua manifestação. Este, quando enfermo, não produz, geralmente, qual­quer fenômeno, ou, se o consegue, é sem­pre de maneira insatisfatória.

E haveria alguma dependência, no fe­nômeno Psi, em relação a fatores meteo­rológicos eu geográficos?

  1. R. B.: Alguns experimentos suge­rem que a Psi depende de fatores meteo­rológicos e geográficos. Os parapsicólo­gos soviéticos observaram que o poder Psi-Kapa de Nelya Mikhailova depende das condições atmosféricas, declinando quando o tempo se enfarruscava. Afir­mam que a estática cósmica influi, pode­rosamente, sobre a ESP.

O Dr. Ravitz anotou que a ação do Sol e da Lua influi no campo de força do corpo e o Dr. Sergeyev pretende que a ocasião mais favorável para a PK ocorra durante os distúrbios magnéticos da Ter­ra, causadas pelas atividades das man­chas solares.

Já o sensitivo Horace Leaf observou que a sua clarividência era melhor em certos pontos dos Estados Unidos do que em qualquer outro lugar em que estivera, atribuindo tal fato à grande quantidade de eletricidade estática, existente na atmos­fera. Dizia ele que costumava sentir seu corpo tão carregado de eletricidade a cada duas horas que, se introduzisse uma chave na fechadura, sentiria um choque elétrico e veria saltar uma fagulha.

E a fraude, há fraude nessas expe­riências?

  1. R. B.: A fraude é o cavalo de ba­talha daqueles que negam, totalmente, os fenômenos paranormais, ou que apenas admitem os que mais lhes convêm e se ajustam melhor aos seus preconceitos fi­losóficos e/ou científicos.

Na verdade, as fraudes são mais ale­gadas do que provadas. Para os negadores sistemáticos, basta a suposição de que um médium poderia ter escamoteado um determinado fenômeno desta ou daquela maneira, mesmo à mingua do menor indi­cio que autorize tal hipótese, para que a “prova” da fraude fique indiscutivelmen­te estabelecida.

Não há negar: médiuns famosos fraudaram. Porém, nem todos fraudaram.

E os que fraudaram, nem sempre o fize­ram todas as vezes, pois se fraudassem sempre, não seriam médiuns.

Já advertia Ochorowicz que o in­consciente é amoral e inteiramente fisio­lógico. Ele obedece às sugestões ou or­dens recebidas – mesmo telepaticamente – e se utiliza de todos os meios para lhes dar cumprimento. Tal comportamento do sensitivo, sob a ação do seu incons­ciente, é interpretado por pesquisadores neófitos ou inábeis como evidência de fraude.

Tinha razão Gustave Geley, quando asseverou que a fraude inconsciente não é fraude, pois, em estado de transe, o sensitivo é suscetível de aceder, automaticamente, às sugestões verbais ou mentais dos pesquisadores.

Allan Kardec, a respeito, fez uma ‘Observação judiciosa: “Existem, sem dúvida, prestidigitadores de prodigiosa habilidade, mas são raros. Se todos os médiuns praticassem escamoteação, forçoso seria reconhecer que esta arte fez, em pouco tempo, inauditos progressos e se tornou de súbito vulgaríssima, apresentando-se inata em pessoa que dela nem suspeitavam e, até, em crian­ças.”

E o clarividente?

O clarividente vê determinadas pes­soas, mas não é visto por elas. É a regra geral. Emmanuel Swedenborg descreveu, certa feita, estando em Gotemburgo, um incêndio que, naquela ocasião, lavra­va Sodermal, Estocolmo, com impressio­nante riqueza de detalhes. Outra vez, quando participava de uma recepção em Amsterdã, anunciou a morte, naquele momento, do czar Pedro III, na Rússia.

O prof. Hornell Hart, no Congresso de Utrecht, apresentou nove casos com­provados desta modalidade de clarividên­cia, também conhecida pelos nomes de projeção extrassensorial e projeção astral ou do corpo astral.

O clarividente, às vezes, vê determi­nadas pessoas e é visto por uma ou por todas elas. Nesse caso, o clarividente é visto como uma aparição para terceiros. Um dos casos mais célebres é o de Santo Antônio de Pádua que, certa vez, foi vis­to, simultaneamente, nas cidades de Pádua e de Lisboa. Há também a clarividên­cia no sonho como aconteceu a Goethe. Voltava ele de um passeio, em companhia de seu amigo Klemm, quando viu, a sua frente, uma aparição. Pareceu-lhe ser o seu amigo Friedrich Rochlitz, o qual, es­tranhamente, vestia o robe e calçava as pantufas do poeta.

Naquela mesma ocasião, em casa de Goethe, seu amigo Rochlitz dormia pro­fundamente, usando o robe e as pantufas do poeta e sonhando o encontro com este na estrada de Belvedere. Rochlitz, que fora visitar Goethe, apanhara um forte aguaceiro e se viu na contingência de tro­car suas roupas e sapatos molhados pelo robe e as pantufas de seu amigo. Ador­meceu numa poltrona; enquanto espera­va o retorno de Goethe. Este, ao chegar em casa, encontrou Rochlitz dormindo e tudo, afinal, ficou esclarecido.

E a precognição?

  1. R. B.: E o conhecimento paranor­mal do futuro. Dai, a necessidade de se estabelecer a distinção entre previsão e precognição. Previsão é processo cons­ciente e resulta da avaliação, por indu­ção ou dedução, de um determinado con­junto de dados, numa situação específica, culminando em eventos racionalmente esperados. Precognição, por sua vez, é elaboração inconsciente, culminando em eventos racionalmente imprevisíveis. O evento precognitivo pode ser anunciado por pessoa viva e ou por pessoa morta.

No que tange ao anúncio precognitivo em relação à pessoa que o anuncia, os casos são inúmeros. Exemplos?

O Dr. Alphonse Teste conta que a Sra. Hortence M., em transe, afirmou que estava grávida de 15 dias, mas que, por causa de um susto, levaria uma queda e, em consequência, abortaria. Disse, ain­da, que, como sequela do acidente, fica­ria bastante doente durante três dias, re­latando todos os pormenores de sua futu­ra enfermidade.

Apesar de todas as medidas tomadas para se evitar o evento anunciado, tudo se realizou conforme o predito.

Também os anúncios precognitivos em relação a terceiros, são frequentes.

A Sra. Lenormand, por processos quiromânticos, relatou, detalhadamente, a vida de um seu cliente, desde aquele instante até a sua morte, aos 26 anos.

Liébaut tentou, em vão, remover, por hipnose, da mente do referido se­nhor, aquela predição que o deixara pro­fundamente impressionado.

Outro sonâmbulo, conhecedor do caso, tentou auxiliar o paciente da Sra. Lenormand, fazendo uma contra sugestão e afirmando que ele só morreria dentro de quarenta e um anos.

Tudo, porém, se passou conforme a predição da quiromante.

E o anúncio precognitivo por pessoa morta?

  1. R. B.: Pode se referir à pessoa a quem foi anunciado e a terceiros.

João Vitalis, um homem sadio, foi, subitamente, acometido por febre violen­ta e dores articulares.

A doença já durava cerca de duas se­manas, quando, certa manhã, ele acor­dou disposto, sem os sintomas de enfer­midade, e, serenamente, contou que, du­rante a noite, fora visitado pelo seu fale­cido pai, o qual, após aparentemente curá-lo, anunciou a sua morte para o dia seguinte, precisamente às nove horas da noite.

O médico, face ao estado de saúde do doente, não acreditou na predição, que, no entanto, se cumpriu com o faleci­mento de João Vitalis na hora predeter­minada.

Tudo o que aqui foi dito encontra-se no livro “Introdução ao Paranormal,” de Valter da Rosa Borges que, além de Pro­motor Público, é o presidente do Institu­to Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas. Nos dias 15, 16, e 17, Rosa Borges estará no hall da Reitoria proferindo con­ferências sobre os fenómenos paranor­mais a convite da Funcep que, através do seu presidente. Bel. Hildebrando Assis, teve o mérito de trazê-lo a nossa Capital, iniciativa esta que teve o apoio também da Universidade Federal da Paraíba. Os interessados no curso deverão se inscrever na sede da Funcep, à Rua das Trincheiras, 619.

 

Jornal Universitário, da Universidade Federal de Pernambuco. Outubro. 1976.

 

VALTER ROSA BORGES E A CIÊNCIA DO MISTÉRIO

Há 20 anos, precisamente, um fenômeno estranho marca­va a vida de um estudioso pernambucano, motivando-o definiti­vamente a palmilhar os caminhos da Parapsicologia: durante reunião doméstica, com pessoas de sua absoluta confiança, teve a oportunidade de examinar, minuciosamente, à claridade de uma lâmpada de luz vermelha, uma mão completamente materializada. Esta peça anatômica, surgida do nada, apertou-lhe a mão e, a seu pedido, suspendeu, a quase meio metro do solo, uma pesada mesa de jantar.

Trata-se de Valter da Rosa Borges, promotor público da Capital pernambucana, criador e apresentador do programa O Grande Júri, da Televisão Universitária Canal 11 e presiden­te do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas do Recife, que se destaca, atualmente, como um dos mais sérios estudiosos da Parapsicologia no Brasil, e que se apresenta mar­cado por uma concepção monística do Universo, de bases espiritualísticas, não ortodoxas nem ligadas, portanto, aos grandes troncos religiosos vigentes tanto no Oriente como no Ocidente.

 

  1. – Qual o lugar que ocupa a cosmovisão kardecista em sua explicação dos fenômenos ditos parapsicológicos?

    R. – Kardec foi quem primeiro sistematizou a fenomenologia paranormal e a sua cosmovisão é ainda válida, em quase todos os aspectos, para um entendimento geral e unificado destes fenômenos O que acontece é que as obras da codificação kar­decista são mais elogiadas e criticadas do que lidas e meditadas. Tudo o que ele escreveu, com o bom senso que sempre o caracterizou, vem sen­do repetido pelos parapsicólogos modernos, talvez com mais precisão, graças a uma nomenclatura e uma conceituação mais adequadas.

  2. – Você encara a reencarnação como um dado tão filosófico quanto o da imortalidade?

    R. – Não. A hipótese da reencarnação é pas­sível de abordagem experimental, o que não ocorre com a da imortalidade. Ademais, não se deve confundir imortalidade com sobrevivência. É pos­sível provar que o homem sobrevive, mas não que ele seja imortal. O próprio J. B. Rhine é um dos que reconhecem que os fenômenos paranormais sugerem fortemente a sobrevivência. Resta, porém, saber o que sobrevive do homem e como ele sobrevive.

Por outro lado, os casos de memória extracerebral, notadamente em crianças, pesquisados pelo Prof. lan Stevenson, reforçam, de maneira posi­tiva, a hipótese palingenésica.

P. – Acha, ainda, que a reencarnação seja in­compatível com o dogma cristão da ressurreição da carne?

  1. – Depende da extensão do conceito de ressurreição da carne. Talvez a expressão menos conflitante fosse ressurreição na carne, pois o que ressurge é o espírito em novo corpo material. Po­rém, como a ressurreição só ocorrerá no Juízo Final, é evidente que este dogma é incompatível com a hipótese da reencarnação.
  2. – Depois do seu recente livro “Introdução ao Paranormal”, você pretende colocar, em alguma obra posterior, os fenômenos paranormais dentro de um âmbito filosófico?
  3. – Possivelmente sim, tudo dependendo de cir­cunstâncias favoráveis para a publicação dessa nova obra. Aliás, é meu intento escrever monografias sobre os temas já abordados, de maneira global e perfunctória, no “Introdução ao Paranormal”.

P – Qual foi o fato primacial de sua vida, de conteúdo quer sentimental, quer religioso, que moveu o seu espírito na direção dos fenômenos metapsiquicos?

  1. – O fato que influiu, na decisão de dedicar-me ao estudo e à pesquisa dos fenômenos paranormais, ocorreu há cerca de vinte anos, quando, em reunião doméstica e com pessoas de minha absoluta confiança, tive a oportunidade de examinar, minuciosamente, à claridade de uma lâmpada de luz vermelha, uma mão materializada. Esta peça anatômica apertou vigorosamente a minha mão e, a meu pedido suspendeu, a quase meio metro do solo, uma pesada mesa de jantar.
  2. – Existe alguma diferença filosófica na análise dos problemas paranormais entre a Metapsíquica e a Parapsicologia? Qual a definição mais abrangente para a explicação de tais fenômenos?

    R. — A Metapsíquica se propôs a realizar o que a Parapsicologia, hoje, está fazendo: pesquisar à luz da metodologia científica, os fenômenos paranormais. Logo, não há qualquer diferença filosófica entre elas, porque não se constituem movimentos filosóficos, mas, sim, disciplinas científicas perseguindo os mesmos objetivos.

Por outro lado, se os fenômenos paranormais são, em sua maioria, produzidos por uma causa inteligente, a sua explicação mais abrangente seria a de que eles são operados pela mente em um nível funcional ainda desconhecido pelas ciências oficiais.

  1. — Qual o papel que desempenha a religião na sua vida? E por que a religião, mesmo excluindo aspectos sentimentais, não se constitui num elemento fundamental para a análise dos fenômenos ditos parapsicológicos?
  2. – Sou um religioso sem ser filiado a qualquer credo religioso. Religião, no meu entender, é o sentimento de unidade do homem com um Ser ou Sistema que lhe é infinitamente superior. É o amor incondicional ao Eterno Desconhecido e a busca infatigável de modelos, cada vez mais amplos, do existir. É a participação plena em todos os níveis possíveis do Ser. No momento em que o homem toma partido, ele se parte, se secciona e se enquista, desligando-se, quase que completamente, do próprio Todo. Ganhou uma religião, mas perdeu a religiosidade.
    A religião, portanto, descerrando novos setores da realidade para o homem, pode servir de poderoso adjutório para a pesquisa e a compreensão dos fenômenos paranormais.

 

MINISTÉRIO PÚBLICO

 

Assumi, em 1 de setembro, a 1ª Procuradoria de Justiça Cível, nas férias de seu titular.

 

 

Palestra no Rotary Club do Recife, no dia 19 de agosto, sob o título “Parapsicologia: uma Nova Visão do Universo”.

 

Dois Cursos Básicos de Parapsicologia na UNICAP, de 12 a 31 de julho e de 12 de setembro a 10 de outubro.

 

Quando Uri Geller apareceu em programa da Rede Globo, entortando metais, provocou fenômeno idêntico em alguns telespectadores.

Um dos nossos colaboradores, Carlos Fernando Vilanova, filho do grande jurista pernambucano Prof. Lourival Vilanova, levou ao Instituto a sua ex-noiva que também apresentava aquele tipo de fenômeno.

Solicitei-lhe tentar demonstrar-me a sua aptidão psi e lhe entreguei uma cópia da chave de um armário.

Sem se fazer de rogada, ela começou a alisar suavemente a chave, enquanto conversava conosco e, gradualmente, a chave foi-se entortando até chegar a um ângulo de 45º. Estava defronte da primeira Uri Geller “feminina” de Pernambuco.

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